Professor Tito Fernandes
“O país tem de iniciar a execução de investigação fundamental nos sectores de ponta e prioritários”
Num país em desenvolvimento como a África é importante perceber qual o papel das
instituições de Ensino Superior em prol da investigação. De que forma é que as instituições
contribuem para o desenvolvimento do país? Quais as parcerias estratégicas? Há recursos financeiros para apostar na investigação? O que reserva o futuro? Quatro questões
ganharam resposta graças ao contributo do catedrático e director científico da Universidade Lúrio, de Nampula (Moçambique), Tito Fernandes.
Entrevistas
Artigos AULP
índices aceitáveis de melhoria na qualidade de vida
da maioria da população. Na verdade, os problemas básicos de habitação, de acesso a água potável, de energia elétrica continuam e com impacto
negativo no uso desregrado de fontes de energia
baseados nos recursos agrários (lenha e carvão vegetal), com repercussão no estado sanitário das populações que continuam sem os mínimos razoáveis
de cuidados de saneamento e de saúde.
De que forma os projetos de investigação na UniLúrio contribuem para o desenvolvimento de África?
Em Moçambique, e na UniLúrio, as atividades de
Investigação são reduzidas por diversos motivos. Não
existe pessoal com pós-graduação em número suficiente para supervisão da investigação e os apoios
financeiros são limitados, embora estes não sejam o
factor limitativo, pois ONGs e empresas têm proposto
e até financiado alguma pesquisa. Dizemos pesquisa
pois envolvem mais “surveys” que investigação original (“research”), replicando delineamentos experimentais elaborados noutras partes do mundo, procurando respostas para as realidades locais, o que
também tem o seu valor de ciência aplicada. Só
consideramos verdadeira Investigação quando há
publicação dos resultados em revista com “referee”.
Ciência está de facto ligada ao desenvolvimento,
porém, apesar do elevado crescimento económico
em Moçambique, o desenvolvimento, determinado
por parâmetros universais e não pelo rendimento
per capita em US$, demonstra que a velocidade de
crescimento económico não é acompanhado por
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Não se dinamizam aspetos simples como tecnologias de aproveitamento da energia solar, das águas
resultantes da pluviosidade regular, e em excesso
em certas épocas, bem como do estudo de medicamentos tradicionais. Neste último aspeto, a UniLúrio tem iniciado alguns pequenos projectos que poderão dinamizar a utilização de plantas tradicionais
como a moringa.
Investimentos feitos por ONGs não aceitam o financiamento de aquisição de equipamentos laboratoriais de forma significativa, nem o pagamento aos
recursos humanos nacionais, o que ocasiona desequilíbrios e injustiças internas, privilegiando a mão de
obra estrangeira.
Para o sucesso desses projectos, que tipo de parcerias estabeleceu com instituições de Ensino Superior de outros países?
A UniLúrio tem sabido suprir as carências acima
descritas através de uma forte internacionalização
das suas ações e objetivos, em todas as áreas do saber desenvolvidas nos diversos cursos, isto é, saúde,
engenharias agrárias, arquitetura.
Inúmeros protocolos, não só escritos, mas com direto impacto na vida da UniLúrio têm sido elaborados e desenvolvidos com relativo sucesso, sobretudo
com o Brasil, Estados Unidos da América, Irlanda e