Andreia Fernandes trabalhava no ramo automóvel
quando ficou desempregada há dois anos. Sem alternativas, decidiu reciclar os estudos. O mais complicado foi reaprender a estudar e a adaptar-se aos
colegas mais novos: “Tento reencontrar um método
de estudo e motivação para aprender temas que
já são conhecidos ou que considero que não têm
muita relevância. Tive também dificuldade em me
adaptar a colegas de 18 e 19 anos de idade, uma
vez que já não estou habituada a fazer trabalhos de
grupo, mas sim a liderar equipas”.
De acordo com um estudo levado a cabo pelo
pesquisador dinamarquês Lars Larsen, da Universidade de Aarhus, a inteligência mantém-se estável
após os 20 anos de idade e, em alguns casos, pode
aumentar com a idade. Uma motivação para Andreia regressar aos livros: afinal o conhecimento não
está apenas ao alcance dos mais novos.
Já para Albertino Veigas a integração num ambiente com colegas mais novos foi fácil: “sou encarado como um colega igual, em termos de conversas e de brincadeiras”. Reaprender a estudar foi mais
difícil, mas concluiu o primeiro semestre sem dificuldade. Admite que o método mais eficaz que encontrou foi o de “entender aquilo que está a escrever.”
Os trabalhos de grupo não são tarefa fácil porque
não domina as novas tecnologias. Afirma, no entanto, que acha engraçado fazê-los pelo Facebook.
Rafaela Silva utiliza outros métodos de estudo que
pensa responderem à exigência de um doutoramento. “Tornei-me assídua nas bibliotecas, faço fichas de
leitura de forma a organizar ao máximo as minhas
pesquisas e estudo”, explica.
Quando se tem pouco tempo para estudar, é preciso fazer uma boa gestão do tempo. Miguel Almeida, trabalhador-estudante na Faculdade de Direito
de Lisboa, afirma que “um método que não dispensa na aprendizagem é a presença nas aulas”. Aos
fins-de-semana tenta planificar o tempo de acordo
com o nível de dificuldade das cadeiras: “dou prioridade a matérias mais complexas deixando as mais
simples de analisar para o fim”. Recorre a esquemas
porque o “curso requer obrigatoriamente a necessidade de leituras extensivas e morosas”. Lê apontamentos e sebentas, muitas vezes disponíveis da Internet ou na reprografia da faculdade.
Ensino superior e mercado de trabalho
Encontrar um curso num horário pós-laboral que
seja compatível com o horário profissional é outra dificuldade encontrada quando se estuda depois dos
30.
“A questão dos horários é bastante discutida mas
não existem alternativas. Quem, durante o dia, exerce uma atividade profissional, só pode frequentar
aulas à noite”, refere Miguel Almeida. Propõe uma
solução a esta falha: “as universidades deviam permitir que todos os cursos fossem em regime diurno e
noturno.” Lamenta o facto de isso não acontecer.
Miguel aponta ainda o desfasamento entre as universidades e as exigências do mercado de trabalho.
“O ensino nas universidades é, ainda, muito teórico”,
afirma, pelo que é preciso existir uma maior articulação entre o mercado de trabalho e o ensino universitário.
“Hoje em dia, é o licenciado que mostra à empresa
qual é a sua mais-valia na mesma. A empresa fica à
espera que sejam as pessoas a mostrar as suas capacidades e não diz o que espera do licenciado”, diz
Albertino Veigas. Admite, ainda, que o facto de as
empresas procurarem licenciados com uma grande
experiência na área, acaba por limitar os jovens que
acabam de se licenciar e não têm qualquer prática. Surge, agora, outro tipo de recrutadores: “aqueles que preferem a falta da experiência profissional,
com o intuito de não levar determinados vícios do
emprego anterior”.
Estas são as vozes de quem não desiste de investir em si, de quem já trabalha, mesmo depois de ter
mais de 30 anos. De quem, em duas palavras: recicla
conhecimentos.
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Criar métodos de estudo