Test Drive Maio2014 | Page 19

Andreia Fernandes trabalhava no ramo automóvel quando ficou desempregada há dois anos. Sem alternativas, decidiu reciclar os estudos. O mais complicado foi reaprender a estudar e a adaptar-se aos colegas mais novos: “Tento reencontrar um método de estudo e motivação para aprender temas que já são conhecidos ou que considero que não têm muita relevância. Tive também dificuldade em me adaptar a colegas de 18 e 19 anos de idade, uma vez que já não estou habituada a fazer trabalhos de grupo, mas sim a liderar equipas”. De acordo com um estudo levado a cabo pelo pesquisador dinamarquês Lars Larsen, da Universidade de Aarhus, a inteligência mantém-se estável após os 20 anos de idade e, em alguns casos, pode aumentar com a idade. Uma motivação para Andreia regressar aos livros: afinal o conhecimento não está apenas ao alcance dos mais novos. Já para Albertino Veigas a integração num ambiente com colegas mais novos foi fácil: “sou encarado como um colega igual, em termos de conversas e de brincadeiras”. Reaprender a estudar foi mais difícil, mas concluiu o primeiro semestre sem dificuldade. Admite que o método mais eficaz que encontrou foi o de “entender aquilo que está a escrever.” Os trabalhos de grupo não são tarefa fácil porque não domina as novas tecnologias. Afirma, no entanto, que acha engraçado fazê-los pelo Facebook. Rafaela Silva utiliza outros métodos de estudo que pensa responderem à exigência de um doutoramento. “Tornei-me assídua nas bibliotecas, faço fichas de leitura de forma a organizar ao máximo as minhas pesquisas e estudo”, explica. Quando se tem pouco tempo para estudar, é preciso fazer uma boa gestão do tempo. Miguel Almeida, trabalhador-estudante na Faculdade de Direito de Lisboa, afirma que “um método que não dispensa na aprendizagem é a presença nas aulas”. Aos fins-de-semana tenta planificar o tempo de acordo com o nível de dificuldade das cadeiras: “dou prioridade a matérias mais complexas deixando as mais simples de analisar para o fim”. Recorre a esquemas porque o “curso requer obrigatoriamente a necessidade de leituras extensivas e morosas”. Lê apontamentos e sebentas, muitas vezes disponíveis da Internet ou na reprografia da faculdade. Ensino superior e mercado de trabalho Encontrar um curso num horário pós-laboral que seja compatível com o horário profissional é outra dificuldade encontrada quando se estuda depois dos 30. “A questão dos horários é bastante discutida mas não existem alternativas. Quem, durante o dia, exerce uma atividade profissional, só pode frequentar aulas à noite”, refere Miguel Almeida. Propõe uma solução a esta falha: “as universidades deviam permitir que todos os cursos fossem em regime diurno e noturno.” Lamenta o facto de isso não acontecer. Miguel aponta ainda o desfasamento entre as universidades e as exigências do mercado de trabalho. “O ensino nas universidades é, ainda, muito teórico”, afirma, pelo que é preciso existir uma maior articulação entre o mercado de trabalho e o ensino universitário. “Hoje em dia, é o licenciado que mostra à empresa qual é a sua mais-valia na mesma. A empresa fica à espera que sejam as pessoas a mostrar as suas capacidades e não diz o que espera do licenciado”, diz Albertino Veigas. Admite, ainda, que o facto de as empresas procurarem licenciados com uma grande experiência na área, acaba por limitar os jovens que acabam de se licenciar e não têm qualquer prática. Surge, agora, outro tipo de recrutadores: “aqueles que preferem a falta da experiência profissional, com o intuito de não levar determinados vícios do emprego anterior”. Estas são as vozes de quem não desiste de investir em si, de quem já trabalha, mesmo depois de ter mais de 30 anos. De quem, em duas palavras: recicla conhecimentos. 19 Artigos AULP Criar métodos de estudo