A vida por detrás do Convento das Bernardas
O Convento das Bernardas situa-se próximo da nova ponte sobre o rio Gilão, ao lado das salinas de Tavira, e foi mandado construir, em 1509, por D. Manuel I, como "ação de graças" à cidade de Arzila pelo sucesso que teve no "Algarve de além-mar, em África" , num cerco mouro. O edifício terá sido cedido a D. Fernando Coutinho que, em 1530, o concluiu e o entregou às Monjas de Cister. Nos três séculos seguintes, manteve-se como o único convento feminino daquela ordem, na região do Algarve.
As Freiras Bernardas, como eram conhecidas em Tavira, ao longo dos séculos, protagonizaram alguns escândalos, que passamos agora a explicar:
Em 1537, a Abadessa do Mosteiro escreveu uma carta a D. João III a dizer que tanto ela como o resto do Convento teriam imenso gosto em receber a filha de Nuno Gato, mas visto a menina não ter bens e o convento apresentar dificuldades em autossustentar-se, recusaram-na. Assim, as freiras não aceitaram uma menina por ser pobre, apesar de ter sido o rei a solicitar-lhes;
Em 1543, Gonçalo Bandeira pede a D. João III, por carta, que este mande a sua filha para casa de algum parente, pois as freiras “desinquietavam a menina”, incentivando-a a casar com o filho de Diogo Simões que, por sua vez, o rei recusara, o que levara ao ingresso da menina no convento;
Em 1547, o Corregedor de Tavira escreve uma carta ao rei informando-o da saída das freiras do Convento, ato que fora muito comentado na cidade. Ao longo de toda a carta, há uma notória necessidade de este corregedor salientar a saída como sendo honesta. As freiras foram ao Convento masculino de São Francisco passar o dia, supostamente para cumprir uma promessa. De acordo com o corregedor, ouviram a missa no coro, jantaram com o seu confessor e outros padres, passando, assim, a tarde a cantar e a tocar. À noite recolheram-se no seu Convento, tudo com muita honestidade;
Em 1548, Frei Estevão, da ordem de São Bernardo, confessor das freiras, foi morto por Francisco Viegas, quando se encontrava a encerrar as portas do convento, como era sua tarefa diária. Frei Estevão que andava desconfiado escondeu-se, quando Francisco Viegas saltou e o matou. O Juiz Francisco Pais queixa-se ao Rei que acha “com raridade tão danada que os fidalgos não obedecem a sua justiça que dificulta, pois muito que algumas pessoas desta cidade que nela moram andam pedindo a V. A. Justiça de alguns”.
De facto, o atrevimento das freiras Bernardas, ao longo do século XVI, era evidente.
Carolina Pedro, 11.ºC1, n.º 9
Inês Ferreira, 11.º C1, nº 13
Imagem / Picture p. 11: https://goo.gl/FTW29g
Carta do Juiz Francisco Pais / Letter by the Judge Francisco Pais Francisco
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Fontes/Sources
PT/TT/CC/1/73/59 (1543) acessível em
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=3776847 acedido em 29/05/2018
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