Começo sempre perguntando sobre o movimento de passageiros e se ele tem mudado devido ao momento econômico do país. De uma forma geral, as respostas que obtive dos taxistas eram similares. Algo como: “Estou fazendo metade das corridas que fazia antes” ou “Percebemos que os passageiros realmente estão sumindo”. Estas colocações reforçam a expectativa que temos sobre o que ocorre neste mercado no contexto que vivemos. Mas em uma destas conversas fui surpreendido. Após fazer as mesmas perguntas sobre o mercado, o motorista me respondeu: “Para mim está igual, eu tenho minha meta de fazer R$500,00 por dia e continuo atingindo este objetivo”. Fiquei um pouco surpreso - pois acho que esperava a resposta padrão sobre o assunto -, mas claro que minha surpresa foi menor que a curiosidade sobre como aquele profissional estava conseguindo superar este momento. Assim que ele acabou sua frase, lhe perguntei: “Conversei com outros profissionais e estes me disseram que estão fazendo menos corridas. Qual é o segredo?”. O taxista prontamente me explicou: “Veja, senhor. Antes eu acordava às oito horas da manhã e trabalhava até às dezessete horas para poder atingir minha meta. O que mudou é que hoje estou acordando às quatro horas da manhã e trabalho até às vinte horas: esse é o segredo.”.
Aquilo, para mim, foi como um tapa de luva, um grande aprendizado sobre economia e crise num dos locais mais inusitados (dentro de um táxi!). Portanto, reforço aqui os pontos que coloquei acima: as crises fazem parte do ciclo econômico, não existem maneiras de evitar um período econômico menos promissor. O que temos que aprender são formas de enfrentá-lo minimizando o seu impacto em nossa carreira ou empresa, aproveitando esse momento de abertura para sugerir novas ideias e políticas.
Qual é o tamanho da crise?
Como comentei, o Brasil, em outras épocas, viveu uma série de desafios na economia. Isso acontecia em um período em que as ferramentas de controle financeiro eram escassas e de qualidade bem inferior do que as que possuímos hoje em dia. No passado, esses instrumentos do Estado eram mínimos: não havia meta da inflação, meta de superávit primário, controle do câmbio ou sequer controle do orçamento da união. Hoje, independente dos motivos da crise, somos uma nação mais preparada para enfrentar e controlar um momento de depressão econômica do que éramos há 30 anos atrás. Claro que temos um longo caminho como nação até atingirmos patamares de controle de gasto mais efetivos. Estamos, atualmente, mais estruturados para controlarmos e enfrentarmos uma situação adversa do que estávamos há 20 anos atrás.
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