OMS inicia discussão sobre saúde de pessoas trans
Países membros e terceiro setor discutem tópicos e subtópicos, além de acirrar o debate
Por José Campello
Em contraste, a delegação tailandesa mostrou-se aberta ao diálogo ao mesmo tempo em que a AIDS Alliance expressou “desgosto” sobre o posicionamento dos países de “ditas posturas conservadoras”.
Mesmo com os desconfortos diplomáticos causados por questões de desrespeito às soberanias nacionais e de não cumprimento de acordos, a atmosfera do comitê é positiva. Há um interesse na provocação de mudanças de alcance mundial com as futuras resoluções.
Na 5ª sessão da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizada no último sábado (20), os Estados e organismos internacionais, que passarão o dia anterior discutindo sobre prevenção e tratamento do HIV, votaram pela mudança de tópico. A ação, que sinaliza um progresso nas discussões da agência, agora direciona o foco para a saúde de pessoas transgêneros.
Sob outro aspecto, tanto em meio às discussões quanto durante a coletiva de imprensa, a delegação da Federação Russa, bem como a delegação da República Federativa do Brasil, despontou pela expressão de um discurso conservador.
Em contraste, a delegação tailandesa mostrou-se aberta ao diálogo ao mesmo tempo em que a AIDS Alliance expressou “desgosto” sobre o posicionamento dos países de “ditas posturas conservadoras”.
Mesmo com os desconfortos diplomáticos causados por questões de desrespeito às soberanias nacionais e de não cumprimento de acordos, a atmosfera do comitê é positiva. Há um interesse na provocação de mudanças de alcance mundial com as futuras resoluções.
Em assembleia no último sábado (20), a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou discussões sobre os direitos da comunidade transsexual, mas posicionamentos polêmicos do delegado russo deixaram um clima de tensão na reunião.
Mesmo que os cidadãos russos tenham liberdade para iniciar a transição de sexo no território, a delegação russa fez uma série de declarações transfóbicas durante a reunião.
Ao utilizar o termo “transexualismo”, o delegado explicitou o desprezo com as próprias premissas do órgão que retirou, em 2018, a transexualidade da categoria de transtornos mentais.
Em oposição, a Arábia Saudita e o Catar enfatizaram que os seres humanos são dotados da capacidade de transmitir informações aos seus semelhantes, concluindo que a família tem total capacidade de educar sexualmente os filhos.
Apoiada pela declaração da Suécia de que somente o âmbito familiar não é suficiente para promover a educação sexual adequada, a Ilga recordou que, muitas vezes, os familiares são os próprios agente nos crimes sexuais infantis.
A respeito da comunidade trans, a importância da instrução sobre o tema ser feito na infância também foi enfatizado pela Austrália, que disse que é muito mais fácil educar uma criança do que um adulto.
A Unicef discorreu sobre a necessidade de proteger as crianças trans para que elas não sigam o caminho da prostituição. A França, por sua vez, disse que já implementou em seu país leis que protegem, descriminalizam e combatem o ódio em relação aos transsexuais, além de mitigar o preconceito em relação a doação de sangue pela comunidade.
O Brasil admitiu que é o que mais mata indivíduos do grupo LGBT, mas que pretende mudar a situação mediante a criação de medidas em que os postos de saúde ofereçam informações sobre sexualidade e não por educação sexual em escolas.
Com a mesma posição conservadora, a Rússia disse que a comunidade trans é importante, mas que a prioridade é o bem da maioria e que, por isso, não aceitaria nenhuma medida a favor dos transsexuais, que são uma minoria, se isso fosse prejudicar o bem comum.
“Esses posicionamentos me deixam com desgosto”, disse a representante da Aids Alliance. “Os países são inflexíveis e não estão seguindo com o que foi acordado na Declaração dos Direitos Humanos. Estão permitindo que uma parte da população morra”, completou.
A Rússia rebateu e afirmou que, se ela está presente no debate, é porque está disposta a proteger o grupo LGBT. Mesmo assim, disse que só aceitaria sugestões que fossem condizentes com seus ideais políticos e culturais.
Rússia estagnada
Delegação russa expõe preconceito em sessão da OMS e limitação para compreender a diversidade humana
Por Renan Taveres
delegado explicitou o desprezo com as próprias premissas do órgão que retirou, em 2018, a transexualidade da categoria de transtornos mentais.