Para Proust, tudo na arte depende daquilo a que ele chama, de forma alargada, a “visão”. No final do Tempo
Reencontrado, Proust vai explicar a Literatura recorrendo à pintura:
Editora Anticítera
“Graças à arte, em vez de contemplar um mundo único, o nosso, e temos tantos mundos à nossa
disposição como temos artistas originais, as diferenças entre estes artistas é maior que as que rolam no
infinito e mesmo depois de muitos séculos de se ter extinguido a fonte de onde emanavam, que se chamasse
Rembrandt ou Vermeer, ainda nos enviam o seu raio especial. (TR)
Da mesma forma, numa passagem anterior, já o tinha dito de forma clara “captar a nossa vida; e também a
dos outros; pois o estilo para o escritor como para o pintor é um problema, não de técnica, mas de visão.
(Notre vie; et aussi la vie des autres; car le style pour l'écrivain aussi bien que la couleur pour le peintre est
une question non de tecnique mais de vision) T.R.
Rembrandt e Vermeer são as grandes referências artísticas de Marcel Proust. De Rembrandt, Proust
vai “imitar” a variação de um tema único: cada quadro é uma recombinação dos mesmos elementos – esse
processo também está presente na Busca: as jovens, as diversas igrejas, as sonatas são variações de uma
mulher, uma igreja e uma única sonata. De Vermeer, Proust vai “imitar” a pintura por camadas, a Busca
do Tempo Perdido toma a sua espessura e densidade dos diversos retoques, correcções, sublinhados,
reescritas, reconstruções e regressos temáticos. Ao contrário da pintura dos dois mestres, a obra de Proust,
simplesmente, decorre no Tempo , tempo esse que, no fundo, será eliminado.
O escritor Marcel Proust nasce no momento em que começa a ver a realidade pelos olhos de um
artista, no momento em que a arte se confunde com a vida. O escritor vai emprestar a sua vida à arte, é a
famosa tese do “artista espelho”. As lições da pintura são transpostas para a escrita, abolir a fronteira entre
pintura e escrita é equivalente e acompanhado pela abolição da fronteira entre “vida” e arte. A arte é a
abolição das fronteiras, de todas as fronteiras.
"O Terceiro Dia", por Cléber Pacheco
"(DES)Caso com a poesia: inquietações",
por Maurício Gomes
"Vista de Delft".
(1660-1661).
Vermeer.
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