Os pesquisadores acreditam que esta
estrutura anatômica pode ser importante para
explicar a metástase do câncer, o edema, a
fibrose e o funcionamento mecânico de
tecidos e órgãos do corpo humano.
Como não havia sido
descoberto até agora?
Essas estruturas não são visíveis com nenhum
dos métodos padrões de visualização da
anatomia humana. Agora, os cientistas puderam
identificar esse novo "órgão" graças aos avanços
tecnológicos da endomicroscopia ao vivo, que
mostra em tempo real a histologia e estrutura dos
tecidos.
De qualquer forma, a descoberta foi uma
surpresa.
A equipe de investigadores fez, em 2015,
uma operação com endomicroscopia a laser
– uma tecnologia chamada Confocal Laser
Endomicroscopy (pCLE) – para examinar o
conduto biliar de um paciente com câncer.
Depois de uma injeção de uma substância
corante chamada fluoresceína, foi possível
ver "um padrão reticular com seios (ocos)
cheios de fluoresceína, que não tinham
nenhuma correlação anatômica".
Em seguida, os cientistas tentaram examinar
mais detalhadamente essa estrutura. Para
isso, usaram placas microscópicas de biópsia
habitual. Porém, as estruturas haviam
desaparecido.
Depois de fazer vários testes, Neil Theise,
coautor do estudo, se deu conta de que o
processo convencional de fixação de
amostras de tecidos em placas drenava o
fluído presente na estrutura. Normalmente,
os cientistas tratam as amostras com
produtos químicos, as cortam em uma
camada muito fina e aplicam tinta para
realçar suas características chave. Porém,
esse procedimento faz colapsar a rede de
compartimentos, antes cheios de líquidos. É
como se os pisos de um edifício
desmoronassem.
Por isso, "durante décadas, (a estrutura)
pareceu como algo sólido nas placas de
biópsia", disse Theise, que faz parte do
departamento de patologia da Universidade
de Nova York.
Ao mudar a técnica de fazer a biópsia, sua
equipe conseguiu preservar a anatomia da
estrutura, "demonstrando que ela forma parte
da submucosa e que é um espaço intersticial
cheio
de
fluído
não
observado
anteriormente". Assim, foram identificadas
"tiras largas e escuras ramificadas, rodeadas
de espaços grandes e poligonais cheios de
fluoresceína", descreve o estudo.
Os cientistas confirmaram a existência dessa
estrutura em outros 12 pacientes operados
qual é sua função?
Até agora a ciência não estudou
profundamente nem o fluxo nem o volume do
fluído interticial do corpo humano. Por
enquanto, a identificação desse "espaço
intersticial" levanta várias hipóteses.
Os especialistas acreditam que essa rede de
espaços interconectados, forte e elástica,
pode atuar como um amortecedor para evitar
que os tecidos do corpo se rasguem com o
funcionamento diário - que faz com que os
órgãos, músculos e vasos sanguíneos se
contraiam e se expandam constantemente.
Além disso, acreditam que essa rede de
cavidades é como uma pista expressa para
os fluídos. Isso poderia embasar a hipótese
de que o câncer, ao atingir o espaço
intersticial, possa se expandir pelo corpo
muito rapidamente. É a chamada metástase.
Por outro lado, os autores do estudo
acreditam que as células que formam o
interstício mudam com a idade, podendo
contribuir com o enrugamento da pele e com
o endurecimento das extremidades, assim
como a progressão de doenças fibróticas,
escleródios e inflamatórias.
Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-
43577663