Saúde Coronária - Dia do Doente Coronário | Page 14
PASSAPORTE
PARA A VIDA
Rui Cernadas
Médico de Familia,
Administração
Regional de Sáude
do Norte
«Ainda que sem um contrato
formalmente assinado entre o doente e
o médico, quando alguém recorre a um
médico, como que contrata os serviços
do segundo, sendo que a prescrição da
receita médica deve vincular o doente
ao rigoroso cumprimento das instruções
dadas, das dosagens e dos horários de
administração»
É provável que as pessoas, e os
doentes em especial, consumam
hoje mais medicamentos do
que alguma vez aconteceu.
E não ignoremos que em
Portugal, como nos países
mais desenvolvidos, os nossos
cidadãos vivem por mais tempo
e temos um país claramente
mais envelhecido, tema que é
do domínio público aliás.
O
que, por outras palavras, significa
que, como as doenças crónicas
aumentam com o envelhecimento, também a necessidade de utilizar medicações, às vezes em número considerável, numa mesma pessoa sobe. Este facto
pode ter implicações diferentes, desde o
custo económico e as dúvidas sobre os
que serão realmente essenciais na óptica do utente, aos riscos da polimedicação
igualmente real, à vontade de manter ou
prolongar indefinidamente o tratamento
prescrito…
Também é verdade que, por outro
lado, há actualmente mais soluções farmacológicas do que há 40 anos, por exemplo, poderíamos imaginar significando isso
que, de igual modo, curamos ou prevenimos doenças – patologias – que outrora
não encontravam resposta clínica. Mas é
preciso que os médicos expliquem aos
seus doentes como os medicamentos
funcionam e o que eles os podem ajudar,
quando os tomam e, o que podem prejudicar quando se esquecem deles ou os
interrompem sem indicação médica.
Acredito que por princípio as pessoas
não gostem de tomar os medicamentos
que lhe são receitados pelos seus médicos
e que, por isso, mais cedo ou mais tarde,
deixem de cumprir aquelas indicações.
Por um lado porque, às vezes, julgam
mais temíveis os efeitos dos medicamen-
RECOMENDAÇÕES
Costumo dizer que não há passaporte
para a vida que não contemple um conjunto de sete recomendações básicas, quais
condições de apólice de seguro de vida:
1. Não fumar;
2. Controlar a pressão arterial;
3. Reduzir o colesterol;
4. Vigiar o peso;
5. Comer saudavelmente;
6. Fazer exercício físico;
7. omar religiosamente os medicamentos
T
receitados pelo médico assistente.
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tos do que os dos sintomas e das doenças que os justificam; outras vezes, porque sentindo-se melhores ou julgando-se
“salvos” dos seus males, interrompem e
abandonam a medicação prescrita.Do que
falamos é do que a Organização Mundial
de Saúde chama de “adesão”, ou seja, o
comportamento da pessoa em função
das recomendações que acorda com o
seu médico no tocante ao tratamento
farmacológico, isto é, aos medicamentos
receitados.
Na realidade, ainda que sem um contrato formalmente assinado entre o doente e o médico, quando alguém recorre a
um médico, como que contrata os serviços do segundo, sendo que a prescrição
da receita médica deve vincular o doente
ao rigoroso cumprimento das instruções
dadas, das dosagens e dos horários de ad-
ministração.Há muitas perspectivas de falarmos neste problema da adesão.
Quanto às doenças agudas, por exemplo, uma infecção urinária, para a qual o
clínico receita um antibiótico para ser tomado durante uma semana seguida, às
horas aconselhadas. Nestes casos, trata-se
de garantir que o doente siga o tratamento
até ao final, sendo que esse final está muito perto. Todavia, porque as dores a urinar
ou as corridas frequentes à casa de banho
desaparecem, algumas pessoas sentemse tentadas a abandonar o tratamento antes de tomar o último comprimido…
Mas nas doenças crónicas, o problema
da adesão torna-se muito mais perigoso.
Imaginemos um diabético, ou um hipertenso ou alguém com risco elevado de
doença vascular associada a valores elevados de colesterol…
Muitas vezes, naturalmente, a indicação do médico é para o resto da vida, uma
vez que falamos de doenças crónicas que
não podemos curar, mas que necessitam
de medicação regular e contínua em nome
de um melhor controlo, de menos complicações e de aumento da qualidade e da
esperança média de vida!
Doenças crónicas que dizemos assintomáticas por não provocarem dores ou
mal-estar ao ponto de recordar ao doente
a conveniência de não falhar os seus medicamentos diariamente!
Nestas situações, como no caso concreto de quem tem os valores de colesterol
elevados e por via desse facto, um risco
vascular acrescido, mesmo que os indivíduos se sintam bem, devem compreender
que a tomada diária da medicação evita
problemas e dramas no futuro, qualquer
que seja esse futuro, de curto, médio ou
longo prazo. Para que uma boa adesão ao
tratamento ocorra há vários factores a ter
em consideração:
O nível social e económico do doente,
o conhecimento a respeito da doença e
das suas consequências, as características
do medicamento (como o número de tomas por dia, o seu perfil de tolerância e de
segurança) ou a relação médico-doente.
Em relação aos medicamentos para
o controlo dos valores do colesterol e dos
vários lípidos plasmáticos (do sangue) que,
em regra, se associam nessa perigosa desorganização, convém deixar claro que os
médicos sabem as diferenças entre eles
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desde a respectiva potência, ao perfil de
tolerância de cada um deles ou à capacidade de atingirem os valores alvos que, em
cada doente, devem ser obtidos.
As farmácias podem ajudar neste esforço de controlo e de responsabilização
das pessoas no seu processo de tratamento e prevenção, designadamente a partir
da sua relação de grande proximidade
com os seus clientes habituais.
Porque conversamos sobre o colesterol é relevante lembrar que os medicamentos que conduzem à sua diminuição,
são para além disso fundamentais na prevenção do risco de eventos como o enfarte
do miocárdio, da insuficiência cardíaca, do
acidente vascular cerebral ou da morte!
E é preciso, não esquecer, garantir informação sobre a questão medicamente
preocupante da falt HHY\