Samba Acadêmico Edição 07 Ano I Outubro 2016 | Page 27

ufanista?

Em março de 1970 o governo da Ditadura Militar Brasileiro assina o Decreto-lei n.º 1.098, que "altera os limites do mar territorial e dá outras providências", visando a ampliação do mar territorial brasileiro para 200 milhas, continha cinco artigos e afirmava que: "o mar territorial do Brasil abrange uma faixa de duzentas milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro".

Ao passo que o Milagre Econômico da Ditadura Militar avançava, vários artistas sertanejos demonstravam que tinham de fato uma grande identificação com as politicas adotadas pelo Regime. Vários destes artistas fizeram obras de apoio ao Regime ante democrático imposto da Ditadura, era o momento do “Ame-o ou Deixe-o”, do “Deixar o Bolo Crescer para Depois Dividir”, etc.

Canção Adesista

Muitos brasileiros estavam entusiasmados com a Propaganda do governo que era muito forte e massiva, João Nogueira compôs o Samba “Das Duzentas Pra Lá” que elogiava a politica das 200 milhas, e criticava os gringos de olhos verdes. O Samba foi gravado por Eliana Pittman e se transformou em grande sucesso, depois também foi gravado por Clara Nunes.

Em seu livro “Eu Não Sou Cachorro Não”, Paulo Cesar de Araújo classifica a música como uma canção adesista:

"Algumas pessoas podem não enxergar assim, só porque foi o João Nogueira, um cara do samba, da raiz, da Música Popular Brasileira, quem gravou a música. Mas me pareceu uma patriotada dele. Se por exemplo os seus autores fossem Dom & Ravel, "Das Duzentas Pra Lá" seria adjetivada de ufanista e eles seriam crucificados."E "Das Duzentas Pra Lá", título do samba de João Nogueira, logo se incorporou ao elenco de expressões ufanistas que marcaram o ano de 1970 que, como lembra Morris, foi o ano dos verbetes propagandistas do governo militar, a exemplo da Transamazônica, do "ninguém segura este país". Aquele ano foi, também, o da conquista do título mundial pela seleção brasileira de futebol, fato que se juntou às expressões ufanistas em curso. CASTRO, op. cit., p. 30. MORRIS, Michael A. International politics and the sea: the case of Brazil. Boulder: Westview Press, 1979, p. 36.

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