Samba Acadêmico Brasil Edição 12 ANO II Março 2017 | Page 20

É muito bom saber que a cada dia cresce o número de comunidades, claro que é preciso cuidar para não cair a qualidade que é muito importante, é preciso também garantir seus princípios democráticos, sobretudo o respeito aos compositores afinal de contas essas maravilhosas canetas sempre precisam ser exaltadas e incentivadas.

Importante destacar a atuação da mulher no samba como compositora, interprete, instrumentista, tenho visto cavaquinistas, percussionistas maravilhosas e precisam ter seu espaço garantido e respeitado, já foi o tempo que a mulher no samba só tinha lugar como passista ou no máximo como pastora. Elas estão conquistando cada vez mais espaço nas comunidades isso é ótimo, parabéns às maravilhosas mulheres que fazem o samba da terra da garoa com galhardia.

Devo dizer que tenho levado mais mulheres sambistas compositoras e instrumentistas no Samba na Brasa do que homens e disso tenho muito orgulho.

Foram considerados patrimônios Imaterial da Cultura o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, o Samba Carioca, e mais recentemente o Samba de Bumbo de Pirapora ou Samba Rural Paulista. Assim entendemos que o SAMBA acontece em várias localidades do país, não sendo de um lugar ou região especifico, e por esse motivo adquire sotaques regionais. Em sua opinião o que falta (ou não) para um maior conhecimento do publico quanto aos compositores e interpretes paulistas?

José Eduardo - É verdade que há diferenças no samba em cada parte desse imenso Brasil, não é por acaso que se fala há muito tempo que temos vários Brasis dentro do Brasil, temos várias Juventudes, por que não dizermos que temos vários Sambas espalhados por esses Brasis? Ou seja, em cada região o samba tem uma identidade própria, o que é muito importante e é preciso destacar. Vele dizer que mesmo entre nós na Capital, a Grande São Paulo, há diferenças de identidade entre as comunidades, pequenas diferenças, mas que não descaracterizam ou desmerecem uma da outra, estou falando de identidade não de qualidade e muito menos de quantidade.

É importante lembrar aqui da gênese das Comunidades de Samba, foi exatamente porque os compositores já não tinham tanto espaço e respeito nas Escolas de Samba, daí sua importância para o Samba e para os compositores. Infelizmente o samba paulista não tem visibilidade nenhuma na mídia comercial e isso é uma pena, mas por outro lado é ótimo, pois mostra que os compositores não se rendem ao vil metal e às vontades estúpidas da indústria cultural.

Aqui quero fazer um apelo às rádios comunitárias e rádios webs para que abram mais espaço para o samba de São Paulo. Os compositores paulistas só serão conhecidos se seus sambas foram tocados nas Rádios Comunitárias. As rádios comunitárias não podem imitar as rádios comerciais tocando só o que está na falsa parada de sucesso, que a gente sabe muito bem que são ‘sucesso’ por conta do famigerado “jabá”, pois, não apresentam qualidade e nem representam a nossa cultura de verdade. Então tá na hora das rádios abrirem mais espaço para quem de fato faz cultura na Capital, Grande São Paulo e todo o Brasil. Aqui estou falando de samba de verdade, samba raiz, mais isso vale para todos os demais gêneros de nossa música.

Por fim quero deixar claro que não tenho nada contra o samba de outras regiões do país, aliás no meu programa tenho um quadro, chamado “Samba de Outras Quebradas”, que é exatamente para tocar samba de outras regiões do país. Também deixo claro que não tenho nada contra nossos sambistas consagrados que de alguma forma são lembrados na mídia. Minha intenção e puxar mais brasa pra nosso Samba Paulista.

As rádios comunitárias não

podem imitar as rádios

comerciais tocando só o que

está na falsa parada de

sucesso, que a gente sabe muito bem que são ‘sucesso’ por conta do famigerado “jabá”

Buscar acento nos Conselhos

(de Cultura) é fundamental,

mas para isso é preciso que

os sambistas se unam mais

e coloquem de lado as divergências, os anseios e vaidades pessoais e pensem de fato no Samba, na sua importância histórica e mais ainda no seu papel na sociedade. Aí sim vamos ocupar os espaços que são nossos por direito.

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