Saci Pererê - 100 anos do Inquérito 2018 | Page 14

Folclore , Cinema e Identidade
Andriolli Costa

Cinema

Mostra Curta Saci

Folclore , Cinema e Identidade

Foto : Leonil Junior

Andriolli Costa

Apresentação no Cine Caramelo , em Porto Alegre / RS , contou até com intérprete de Libras .
Era dezembro de 2015 e eu havia acabado de finalizar meu curta-metragem , O Colecionador de Sacis . Com alguns anos de pesquisa nas costas , um curta nas mãos e vontade de criar , entrei em contato com vários diretores que também produziram inspirados no duende brasileiro . Mais do que uma sessão de cinema , queria uma experiência saci .
Assim surgiu a Mostra Curta Saci , evento que une cinema , folclore e contação de histórias . O sucesso foi construído aos poucos , dependendo dos parceiros que acreditavam no projeto : o MIS / MS , o Cineclube Bocacine , o SESC / MS , a secretaria de cultura de Mococa / SP e o Cine Caramelo . Foram 10 sessões ao longo do ano , em que plantamos a semente do encantamento para mais de 1700 pessoas .
As próprias palestras viram histórias . Em Corumbá , um menino contou que seu pai matou um saci . Abriu a barriga do pobre perneta e ele estava recheado de carvão ! Já em São Leopoldo , um garoto ficou decepcionado por eu não ensinar técnicas para o assassínio de sacis . “ Achei que você ia mostrar a cabeça arrancada dele !”. Talvez eu devesse apresentá-lo ao pai do menino corumbaense . Eles se entenderiam bem !
Não , não ensino a matar sacis . Nem mesmo a capturar . Afinal saci é folclore , não pokémon . Para ter o saci por perto é preciso ficar amigo dele . Ele tem que querer estar ao seu lado . Fiquei muito feliz , inclusive , quando uma professora contou que , depois da Mostra , os alunos vieram pedir a soltura dos sacis , que haviam colocado em garrafas naquele mesmo mês . A mensagem encontra seu eco .
Muitas pessoas costumam dizer que criança de hoje não quer saber mais de folclore , só de computador . Meu eu estava lá e vi 800 crianças de 10 anos de idade pedindo mitos na Mostra como torcida de futebol : “ Boto , boto !” - pediam em coro . “ Boitatá ! Boitatá ”, e batiam os pés no chão .
Encerro a apresentação ensinando um “ feitiço de encantar os olhos ”, para a criançada poder ver saci a hora que for . De olhinhos fechados , elas assoviam chamando o saci . “ A hora que o saci responder , você vai sentir que deu certo ”.
Pois em Porto Alegre , na última apresentação do ano , quando desci do palco , um menino me chama de lado , com os olhinhos brilhando . “ Moço , eu senti ! Eu senti !”. E tudo valeu a pena .