RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 4 | Page 8

A Dor, o Luto e os Conflitos Internos

É impossível pensar em luto sem associá-lo a dor. A dor física a depender do seu nível transcende o imaginável, mas aquela dor que vem quando a dor do luto pelo filho ausente (no meu caso nascido sem vida) é algo surreal, hoje a exatamente um ano e oito meses depois de tudo ainda sou incapaz de descrevê-la.

Nos primeiros dias da perda eu me sentia anestesiada, dopada, mas não por medicamentos ou qualquer tipo de tranqüilizante, mas a dor atingiu seu limite máximo, onde eu não era capaz nem de pensar, em muitos momentos era como se estivesse fora do me corpo, como se alma estivesse sido arrancada fora e sensação era de realmente o coração sangrar.

Interessante é que nós somos moldados para lidar com a dor, hoje vejo que ela não passa nunca, só muda de forma, já não desnuda nossa alma, passamos a chorar sozinhos para não incomodar a família e aprendemos a conviver com ela, e hoje sou eu, o luto e a dor pelo luto. Se tem algo bem estranho é como passamos a tê-la sempre conosco, hora latente, hora silenciosa, mas sempre ali, fiel companheira a todo momento independente de se ter alguém por perto ou não.

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