RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto 2 | Page 10

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Reinventar-se a cada dia

A solidão é sentimento que bate à porta todos os dias após a perca da minha primogénita e ainda mais a perca de minha segunda filha. É duro acordar todos os dias e viver a realidade de não ter o ser a qual você sonhou e gerou ao teu lado. Minhas amorinhas descansam ao lado de Deus, viver essa triste realidade é como cair de um precipício achando que cairá de pé e sobreviverá, mas não! Nesta história eu também morri. Morri de tristeza sentimentalmente, morro de angústia em olhar em todos à minha volta e não ter nem a Ágatha e muito menos a Alice aqui comigo.

Todos os dias me reinvento mas sempre tem datas que machuca, aquelas que fariam anos de vida, aquelas datas a qual todos o dia do óbito, até os meses que marcam o dia a qual elas se foram, tudo machuca. Tudo entristece, o problema não é aceitar a vontade de Deus, mas sim se conformar em ter preparado tudo e ter sonhado tanto e não ter elas aqui.

Acredito nos planos de Deus e também acredito que é Ele que me sustenta dia após dia. Minha eterna saudade, é muito bom ter pessoas que me ouvem falar das minhas amorinhas pois hoje falo de amor sem dor. O mundo seria perfeito se houvesse empatia com todos principalmente nós mamaes de anjos, que depois da perca de um filho é descriminada pela sociedade como se nós tivéssemos doenças contagiosas, como se nós fizéssemos tudo errado para não ter nossos filhos aqui. Uns encaram como castigo de Deus mas só nós mamaes de anjos suportamos e entendemos esse milagre da vida a qual Deus pode dar e também pode tomar que ele continuara a ser esse Deus de milagre.