Eu também perdi um filho...
A perda gestacional é uma dor que passa, muitas vezes, despercebida aos olhos dos outros… Diria mesmo, menosprezada! Mais ainda quando se fala do pai. A dor do pai. Ninguém se apercebe daquilo que o pai está a passar? Não quero ser mal interpretado e por isso, sendo homem, escrever sobre esta perda torna-se ainda mais difícil.
Existem ideias pré-concebidas, impostas pela sociedade que levam o casal a fechar-se na sua concha, absorvendo a sua dor que nunca vai passar. Esta é a realidade: podemos ter outros filhos, mas aquele, nunca será esquecido.
A dor do pai… Na verdade, o pai está “no mesmo barco” com a mãe. É pressionado a manter-se forte, a não mostrar as lágrimas, a ser a âncora do casal. Este é um esforço tremendo e cruel que muitos de nós, homens, passamos: não fazemos o nosso luto para que a nossa esposa o possa fazer.
Eu fui pai! Por algumas semanas! Depois de várias tentativas falhadas, quando finalmente o sonho aconteceu, durou tão pouco… A minha esposa estava devastada e o grande amor que cresce a cada dia, dizia-me que tinha de a proteger, fosse de que forma fosse. E além de marido, tive de manter o meu lugar de amigo, pai, mãe, irmão. Eu tinha de tomar o lugar de todos aqueles que estão demasiado longe, separados por uma distância geográfica gigantesca, que os impediam de poder estar presentes fisicamente. E assim, tive de “fingir”, como se esta dor não me afligisse, como se nada me tivesse acontecido, a mim.
Mas, tive outros motivos para tal. A dor da minha esposa: é mais um dos motivos a acrescentar. Parecia que tudo aquilo que eu pudesse fazer não era suficiente para passar parte do seu sofrimento para dentro de mim. Não estava a conseguir amortecer aquela queda violenta, não a conseguia trazer de volta: ela sempre achava que “não valia nada”… Estas palavras deixavam-me ainda mais esmagado do que a já pesada dor da perda de um filho por que tanto esperávamos.
Anónimo, 35 anos
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