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Perda Gestacional

Perda Gestacional. Pode ser um aborto ou um bebé que nasce demasiado cedo e não resiste. Independentemente de como ou quando é… É, sem sombra de dúvida, uma dor sem fim. Muitas vezes, uma gravidez faz parte de um sonho que, ao tornar-se realidade, é vivido como um momento especial e uma experiência única para a mulher, para o companheiro/marido e para a família em geral. A gravidez é vista como uma mudança, onde se descobrem emoções, se procuram novas identidades, novos significados e novos papéis.

Quando falamos de gravidez, falamos de vinculação, ou seja, desenvolve-se uma relação afetiva que se constrói em pensamento, com afeto e gestos, entre dois seres que partilham uma história e momentos únicos, vividos a nível intimo e exclusivo.

O fim deste sonho de forma abrupta e inesperada, aquando da perda de um filho tão desejado, traz consigo uma dor e sofrimento inigualáveis… Como conseguir suportar uma situação em que a vida e a morte acontecem quase simultaneamente? Este facto inesperado e traumático, em qualquer altura da gestação causa deceção e dor. As reações após a perda não dependem apenas do tempo de gestação mas sobretudo da motivação, do investimento e do desejo da gravidez.

Falar de perda gestacional, remete-nos quase que automaticamente para a mulher e na dor que sente. No entanto, é importante lembrar que este sonho de que falamos é vivido a dois. A reação do companheiro pode assumir várias formas, mas o mais normativo será o silêncio, a ansiedade disfarçada de stress, o evitamento e a pouca recetividade à escuta e à partilha de sentimentos. Muitas mulheres poderão interpretar como indiferença, quando na verdade, esta é a outra face do sofrimento.

Viver após a perda implica aceitar, integrar-se, reorganizar-se e transformar-se. É necessário enquadrar sentimentos, falar do assunto, respeitar os tempos e sobretudo, quebrar o “pacto de silêncio” que se instala na vida destes casais. A perda gestacional não deve ser obrigada a esquecer, como se não tivesse acontecido, como se aquele bebé não tivesse existido. Esta perda deve ser encarada como sendo real, procurar apoio e ajuda.

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