as armas físicas, letais. O debate é sua forma de existência, e não o ataque mortal. O objetivo do jogo não é o de destruir o oponente, esmagá-lo, mas o de ganhar os votos dos espectadores. Todas intenções ausentes em polarizações políticas exacerbadas.
Creio que não é preciso se alongar na descrição da polarização presente cotidianamente nas redes sociais. O espetáculo televiso da prisão de Lula diz tudo. Um político condenado por duas instâncias jurídicas, com recursos rejeitados pelas outras duas instâncias restantes( STJ e STF), recusa-se a cumprir a ordem judicial como se estivesse acima da lei. E de fato se sentia assim, como uma ideia e não uma pessoa. Um ser etéreo e não um ser pertencente à natureza. Um profeta revestido de poderes demiurgos e, por isso, acima da lei e da ordem, dos humanos.
A atual polarização política exacerbada jamais esteve presente em nossa história política. Mesmo a comparação com 1964 é falsa. Naquela época, havia um governo fortemente reformista, e uma classe média contrária, medrosa, envolvida pela propaganda anticomunista, que pediu socorro às Forças Armadas. Por sua vez, a comparação com 1968 é absolutamente inconsistente, senão ridícula. Naquele ano, o país vivia um regime de exceção, e não um regime democrático. Não tínhamos eleições livres, os candidatos tinham que ser aprovados pelo serviço de segurança do governo( SNI), só podiam existir dois partidos( Arena e MDB) e a censura imperava sobre os meios de comunicação. Os opositores eram presos na calada da noite, sem qualquer julgamento, e muitos eram torturados ou simplesmente assassinados. Em 1968, havia uma polarização entre os militares no poder e a sociedade civil democrática representada pelos estudantes, intelectuais, artistas, religiosos e trabalhadores fabris, enfim, amplos setores da classe média urbana e da classe operária. No campo democrático, estavam presentes muitos atores, inclusive organizações revolucionárias, como a Aliança Nacional Libertadora( ALN), e reformistas, como o Partido Comunista Brasileiro( PCB) e as Comunidades Eclesiais de Base( CEB). Contudo, se o grosso dos manifestantes saiam às ruas contra a opressão do governo militar e pelo retorno à democracia, as organizações revolucionárias pregavam a substituição da ditadura militar por outra ditadura, a do proletariado. Por isso mesmo, separaram-se das“ massas”, como costumavam denominar o povo, e pegaram, sozinhas, em armas. O ranço antidemocrático das forças de esquerda no Brasil tem história e envergadura.
44 Elimar Pinheiro do Nascimento