Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 34

Em São Paulo, Minas, Rio, Brasília, Recife, Salvador, Porto Alegre, Manaus e por aí afora, a vida simplesmente continuou. Uma aglomeração aqui e acolá, numa capital ou noutra, mas cidadãos e cidadãs foram à feira, à praia, ao shopping, à igreja, ou ficaram em casa descansando.
Pode significar que a prisão de um poderoso a mais ou a menos, entre tantas que já foram feitas e tantas que ainda virão, já não emociona. Ou que se fala na prisão de Lula há tanto tempo que isso amorteceu o impacto quando ela aconteceu. Já estava todo mundo preparado? Outra hipótese é que Lula já não é mais o Lula que saiu da Presidência com 80 % de popularidade. Em torno de 30 % dos eleitores dizem que pretendem votar nele, mas só os ideológicos, que se declaram de esquerda, se animaram a protestar, de preferência pela internet.
Os não ideológicos – que manifestam voto em Lula porque ele é o mais conhecido, ou porque guardam boas lembranças dos seus governos, ou porque imaginam que ele é quem mais vai melhorar a vida deles – não se mexeram. E podem mudar de candidato e ir até para Jair Bolsonaro, se este prometer mundos e fundos.
Por isso, as fotos de sábado( dia 7 de abril) distribuídas a centenas de países foram bonitas e fortes, mas fechadas num Lula cercado por militantes no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Se fossem fotos abertas, de um helicóptero, mostrariam só duas ruas cheias. Muito pouco para o grau de dramaticidade.
Se o“ povo” não fez ruidosas manifestações por Lula, a prisão dele conseguiu o que nem o impeachment de Dilma havia conseguido: o clima de ressaca, em que o dólar foi a R $ 3,42, o maior valor desde dezembro de 2016, e a Bolsa caiu 1,78 %.
A reação, pois, foi menos popular e mais do mercado – e não à prisão em si, mas pela nuvem de imprevisibilidade que ela joga sobre uma eleição já tão perigosamente imprevisível. Lula vai insistir na candidatura, mesmo preso em Curitiba? Se não, qual sua capacidade de transferência de votos para o plano B do PT? Que será quem? Bolsonaro, o segundo colocado, perde ou ganha com este fato novo?
Uma coisa, porém, é certa. Se Lula ficar preso mais algumas semanas e sair no ombro dos militantes, seu poder na eleição é um. Se ficar trancafiado durante meses, imobilizado ao longo da campanha, é outro.
32 Eliane Cantanhêde