Revista XCat Volume 2 | Page 6

destino dos livros seria o esquecimento sem a intermediação dos livreiros e dos bibliotecários porque o livro não tem pernas para andar sozinho.

O livreiro deve ser um incentivador da leitura, um apóstolo do saber. Os capixabas lembram-se com afeto e admiração de Nestor Cinelli, o primeiro grande livreiro do Espírito Santo. Nestor vendia livros fiado. Muitos fregueses só pagaram a conta depois que se formaram.

Dizem que, por causa da televisão, as pessoas estão lendo menos. Não sei. Televisão e livro são veículos diferentes. Na televisão eu não posso parar num quadro, como no livro eu me detenho numa página para relê-la e meditar no que li. Não posso na TV fazer algo como escrever notas marginais ao texto. Não posso colocar a televisão

Amor ao livro

o

João Baptista Herkenhoff

debaixo do travesseiro, como que para continuar a leitura durante o sono. Televisão eu não folheio. Televisão eu não levo comigo para o banco da praça, ou para o consultório médico enquanto espero minha vez de ser atendido. Nem posso fazer algo como abrir uma página ao acaso, ou ler um trecho para a esposa, a avó ou a namorada. A televisão quer me dominar, não sou sujeito, sou objeto. O livro é dócil companheiro, conversa comigo. O livro não grita, não cassa minha liberdade, não quer fazer de mim um autômato. De televisão eu posso gostar. Amar, amar mesmo, só o livro eu posso amar.

Não obstante a disparidade entre o público televisivo e o público que frequenta o livro, a influência dos textos produzidos pelo invento de Gutenberg impressiona e espanta.