Revista Tipográfico - 2ª Edição tipografico vol.2 (1) | Page 36
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(Cena de
Metrópolis.)
Man (1933) que a dupla exposição impressio-
nou o público. Com base no conceito de um
homem invisível, a ideia era filmar roupas flu-
tuantes pelo cenário — método trabalhoso,
devido à dificuldade de encontrar truques para
esconder os fios que seguravam as peças.
Além disso, tiveram a inteligente ideia de fil-
mar o ator com pedaços de veludo preto enro-
lado no corpo e, para que estas cenas tivessem
a qualidade desejada e parecessem realmente
se tratar de um homem invisível, a dupla expo-
si ção foi essencial no processo.
PERSPECTIVA FORÇADA
Ao utilizar a ilusão de ótica para modificar as
escalas e proporções de objetos, na intenção de
fazer com que eles pareçam maiores ou meno-
res do que realmente são, cria-se a perspectiva
forçada. Filmes como Metrópolis (1927) e Har-
ry Potter (2001 – 2011) utilizam esta técnica
para criar cenários inexistentes.
Além do cinema, da fotografia e da arquite-
tura, esta técnica é empregada nos discursos
presidenciais, quando a câmera é colocada
ligeiramente abaixo dos olhos do presiden-
te, dando-lhe a impressão inconsciente de
grandiosidade.
M O N TAG E M PA R A L E L A
No cinema, a montagem é responsável por criar
significados, dar sentido, estabelecer compara-
ções, arquitetar a narrativa com acontecimentos
alternados e definir o ritmo da trama.
A montagem pode se dar de diversas formas,
segundo alguns especialistas. Porém, para a
melhor compreensão da montagem paralela
especificamente, é ideal entender inicialmente
como funciona a montagem alternada.
A técnica de montagem alternada está rela-
cionada às ações que possuem simultaneidade
temporal entre si, ou que possuem relações de
causa e efeito sem constituição de nenhum tipo
de implicação comparativa ou simbolismo.
Um exemplo claro do uso desta técnica está
no filme Duro de Matar - A Vingança (1995),
quando o personagem de Samuel L. Jackson
luta com terroristas em um navio, Bruce Willis
em um galpão do porto e, em uma terceira
cena, a polícia evacua uma escola do outro lado
da cidade. Estas três ações ocorrem ao mesmo
tempo, mas não possuem relações simbólicas
entre si, são apenas interligadas na narrativa.
Por outro lado, a montagem paralela constitui-
-se da alternância entre ações que acontecem ou
não ao mesmo tempo, geralmente com a finali-
dade de construir um novo significado implíci-
to, fazer uma comparação ou criar contraste.
A montagem paralela é bem explorada nos
filmes de David Griffith, como Intolerância
(1916), com propósito de criar suspense. Ele
é considerado o fundador desta técnica e um
mestre no assunto, juntamente com Sergei Ei-
senstein — ao lado de seus colegas construti-
vistas, Sergei já formava as primeiras teorias
acerca da montagem no cinema, nos anos 1920.
Para entender melhor o funcionamento da mon-
tagem paralela por si só, pode-se pensar na cena
de batismo do filho da irmã de Michael Corleo-
ne, em O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford
Coppola. A cena é revezada com uma série de as-
sassinatos que acontecem ao mesmo tempo que o
batismo, criando um choque de realidade entre o
universo religioso e o criminal.
Outro exemplo está no filme Tempos Modernos
(1936), de Charles Chaplin: a cena inicial, onde
um rebanho de ovelhas é mostrado e, entre os
animais, há uma ovelha negra. Em seguida,
surgem os trabalhadores na estação do metrô
— os trabalhadores equivalem às ovelhas, e o
personagem de Charles Chaplin representa a
ovelha negra durante o filme.
Percebe-se, então, que a montagem paralela
não é feita apenas de cenas que acontecem ao
mesmo tempo, como na montagem alternada,
onde a simultaneidade temporal é obrigatória.
Além disso, as paralelas também podem não
conter simbolismo implícito. Exemplo disto são
filmes como O Poderoso Chefão 2 (1974), onde
há histórias de dois personagens sendo contadas
em décadas diferentes, mas a colocação paralela
das cenas possui apenas sentido narrativo.
Outro longa que faz este mesmo uso da técnica
é O Senhor dos Anéis - As Duas Torres (2002),
na cena onde Aragorn traça o rastro dos hob-
bits sequestrados. Conforme ele narra a his-
tória, surgem cenas do que ocorreu na noite
anterior — espaços de tempo diferentes, que
se relacionam paralelamente, sem simbolismo,
para que a história faça sentido.
Porém, não é tão simples — alguns filmes
possuem tanto a montagem alternada quan-
to a paralela nas cenas. Isto acontece quando
as cenas têm relação de causa e consequên-
cia, mas o que move a narração é a com-
paração e o simbolismo envolvido. A Lista
de Schindler (1993), de Steven Spielberg, possui
uma cena que exemplifica o uso das duas mon-
tagens: quando, no momento em que um casal
de judeus ricos é expulso de casa, quase que
imediatamente surge a cena de Oskar Schindler
entrando na casa do casal, para tomar