Revista Tecnicouro (maio/junho 2021) Ed. 324 - completa | Page 70

O lado bom é que temos tempo para avançar

O salto da Indústria 4.0 em 2020

O lado bom é que temos tempo para avançar

70 • maio | junho

Alexandre Pierro engenheiro mecânico , físico nuclear e fundador da Palas , consultoria pioneira na implementação da ISO 56002 , de gestão da inovação

Com a pandemia , tivemos uma aceleração na transformação digital das empresas . Embora já falássemos sobre Indústria 4.0 há muitos anos , só agora ela encontrou espaço entre as empresas brasileiras . O termo engloba uma série de tecnologias que utilizam conceitos de sistemas cyber-físicos , internet das coisas e computação em nuvem . Seu principal atributo é a criação de fábricas inteligentes , que criam uma cooperação mútua entre seres humanos e robôs .

E , num contexto de tantas restrições nas interações humanas , os robôs não poderiam ser mais bem-vindos . Tanto é que uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria ( CNI ), revelou que 54 % das indústrias que adotaram de uma a três tecnologias digitais em 2020 , registraram um lucro igual ou maior que no período pré-pandemia . Esse resultado é sete pontos percentuais maior que o registrado pela indústria analógica .
Dentre as tecnologias mais adotadas no Brasil , estão o Big Data , impressoras 3D e simulações computacionais . Essas e outras ferramentas são capazes de interligar o ciclo da empresa , promovendo agilidade na comunicação de modo a aumentar a eficácia do processo , tornar os funcionários mais produtivos e fornecer informações precisas para uma melhor tomada de decisão .
As vantagens ficaram ainda mais evidentes diante da necessidade de afastar trabalhadores do grupo de risco e manter o distanciamento social dentro das fábricas e escritórios . As indústrias automatizadas e inteligentes conseguiram manter o ritmo de produção mais próximo do normal , galgando um grande diferencial competitivo em especial em um momento em que começa a faltar matéria- -prima no mercado . Soma-se a isso tendências como o home office e o paperless - substituição do uso de documentos físicos por digitais - que receberam grande notoriedade durante os últimos meses .
Um mito que cai por terra é o de que a Indústria 4.0 provoca desemprego . A pesquisa da CNI aponta que 30 % das indústrias que adotaram até três tecnologias digitais ampliaram os quadros de funcionários em relação ao período pré-pandemia . No entanto , trata-se de uma mão de obra mais qualificada , capaz de operar os sofisticados softwares e hardwares da robotização .
A mesma tendência é observada quando se avaliam dados internacionais da Indústria 4.0 pelo mundo . Não é possível notar uma correlação entre a maior adoção da tecnologia digital com o avanço nas taxas de desemprego . O que se percebe é uma busca por mais qualificação , revelando que quando uma porta se fecha , várias janelas se abrem . Quem tiver empenho para se preparar , certamente irá encontrar melhores oportunidades no mercado de trabalho .
Embora tenhamos dado um salto importante no tema em 2020 , esses são apenas os primeiros passos de uma longa maratona . Segundo dados da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial ( ABDI ), menos de 2 % das nossas indústrias estão prontas para a Indústria 4.0 . Na China , Estados Unidos e União Europeia estima-se que esse número chegue a 50 %. Na Índia e Paquistão são cerca de 25 %. Mesmo tendo melhorado quatro posições no Índice Global de Inovação ( IGI ) entre 2019 e 2020 , o Brasil ainda ocupa a 62 ª posição do ranking , com uma adesão relativamente baixa à Indústria 4.0 .
Apesar de estarmos tão atrás , essa é uma corrida que está apenas começando . Com a chegada do 5G - prevista para 2021 - o processo de automatização das indústrias certamente ganhará um novo patamar . Engana-se quem pensa que teremos apenas uma internet mais veloz . O 5G é a base para termos trilhões de dispositivos conectados à rede , como carros autônomos , eletrodomésticos inteligentes , sensores diversos e manufatura preditiva , com fábricas muito mais eficientes do que é possível hoje .
O lado bom é que temos tempo para avançar . E não são só as indústrias que precisam se modernizar . O conceito de Indústria 4.0 se estende também a empresas dos segmentos de comércio e serviços , que vem adotando tecnologias como o self check-out , estoques autônomos , inteligência artificial , realidade virtual e aumentada e até a adoção de QR Codes e criptomoedas para pagamento de produtos ou serviços . Outro ponto importante é que não necessariamente a adoção à Indústria 4.0 está atrelada a altíssimos investimentos . Muitas dessas tecnologias têm baixo custo e promovem grandes ganhos de produtividade , eficiência e até em segurança da informação . A chave está em fazer uma implementação adequada e inteligente das tecnologias certas para cada tipo de operação .
As empresas que desejam melhorar sua competitividade em esfera internacional precisam investir , acima de tudo , em gestão para a inovação . Assim como em toda maratona , o corredor precisa de um bom preparo , como o planejamento da rota , as métricas e as estratégias certas para conseguir o melhor desempenho . Adotar tecnologias da Indústria 4.0 sem um conceito claro de realização de valor , com foco em resultado , é andar para trás .