Revista Tecnicouro - Edição 313: comepleta Ed. 315 - completa (Nov/Dez - 2019) | Page 71
OPINIÃO
Retomada
da atividade
industrial
também
depende
de gestão
eficiente
Matheus Pagani
CEO e cofundador
da Ploomes
A
produção da indústria
brasileira cresceu 0,8% em
agosto comparado ao mês
anterior, de acordo com o relatório
mais recente da Pesquisa Industrial
Mensal - Produção Física (PIM-PF),
realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Sem
dúvida, a notícia é um alento para
o setor, que há tempos convive com
sucessivas quedas - fruto da crise
econômica iniciada em 2014.
Ao avaliar os dados de forma
minuciosa, é possível observar que
somente os bens intermediários
(insumos utilizados para produção
de outros bens) registraram avanço.
A categoria - que representa 55% da
indústria nacional - cresceu 1,4% em
relação ao mês de julho. Por outro
lado, a produção de bens duráveis
diminuiu 1,8% no período. Já a de
bens semi e não duráveis, além de
fabricantes de bens de capital, apre-
sentaram, ambas, queda de 0,4%.
O resultado mostra que os
problemas estão longe de serem
resolvidos. Apesar da leve recupera-
ção sustentada pela maior categoria
do setor, a verdade é que a indústria
brasileira passa por um quadro de
estagnação crônica e inclusive corre
o risco de deixar o ranking das dez
maiores potências mundiais, uma
vez que nos últimos cinco anos a
atividade nas fábricas de todo o
planeta aumentou 10%, enquanto
a produção industrial no Brasil caiu
15% no mesmo intervalo.
Além de contar com a melhora
da economia brasileira para voltar a
crescer com consistência, nesse mo-
mento o grande desafio das indús-
trias também passa pela incorpora-
ção de boas práticas de gestão. Hoje
ainda são inúmeros os exemplos de
empresas da área que serão geridas
de maneira familiar. Obviamente,
diversas delas são conduzidas por
profissionais competentes, mas há
também aquelas que derrapam pela
ausência de uma governança mais
profissionalizada. Já outras falham
no processo de sucessão e acabam
se perdendo no meio do caminho.
O desempenho do setor também
é atravancado pela falta de pro-
cessos na gestão de pessoas. São
raras as indústrias que estabelecem
programas para atração e retenção
de talentos. Com isso, os melhores
profissionais tendem a entrar na
companhia e logo em seguida se
veem obrigados a procurar por opor-
tunidades mais atraentes, haja visto
que grande parte das empresas não
costumam oferecer aos colaborado-
res planos de carreira estabelecidos
por metas e resultados alcançados.
Outro fator que merece aten-
ção e tende a influenciar de forma
negativa o faturamento de algumas
indústrias é a falta de sincronia en-
tre os departamentos de marketing
e comercial. Para ficar em apenas
um exemplo, é comum que alguns
líderes peçam aos executivos de
vendas para realizar relacionamento
com clientes que costumam adqui-
rir produtos somente a cada cinco
anos - claramente uma atividade de
responsabilidade do marketing.
Vale também mencionar a
importância da formação de equipe
de TI. No mercado industrial ainda
há diversos profissionais da área
avessos a novas soluções pelo medo
de perder sua importância dentro da
organização. Tal atitude tende a im-
pactar os resultados operacionais do
negócio pela ausência de melhorias
a médio prazo na gestão organiza-
cional, produtividade do chão de
fábrica e até mesmo prejudicando o
desenvolvimento de novos produtos.
Tornar eficiente a gestão nas
indústrias não é uma tarefa simples.
São inúmeros fatores envolvidos
para que a administração alcance
a solidez necessária, adaptando-se
ao conceito Indústria 4.0. Agora a
lição de casa a ser feita - por muitas
companhias - é ajustar os pon-
tos defasados para adiante pegar
carona junto com o crescimento
econômico.
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