Revista Tecnicouro - Edição 313: comepleta Ed. 315 - completa (Nov/Dez - 2019) | Page 17

N o dia 8 de outubro, o Dr. em Economia e consultor do se- tor calçadista, Marcos Lélis, debateu na Análise de Cenários a situação político-econômica e social para o mercado em 2020. Ele inicialmente comentou sobre os efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que trouxe desaceleração no comércio mundial e deve refletir ainda em 2020. Marcos ressaltou que, além da guerra tarifária, a China utiliza das suas reservas internacio- nais - de mais de US$ 3 trilhões - para manipular o câmbio, o que tem refle- xo imediato na economia mundial. “Em julho e agosto, quando houve um ruído nas negociações entre China e EUA, eles desvalorizaram o Yuan (moeda chinesa) e bagunçaram a economia mundial”, recordou, salien- tando que o país é o maior exporta- dor do mundo. Segundo o economista, mesmo o PIB brasileiro crescendo 0,4% no segundo trimestre, a economia ainda patina pela falta de investimentos substanciais em infraestrutura. “Esse crescimento foi puxado pelo setor de habitação, especialmente de alto padrão no Sudeste, o que não é suficiente para um crescimento consolidado”, explicou, ressaltando que o crescimento, para se consoli- dar, precisa ser resultado de maiores investimentos no parque fabril (au- mento da capacidade instalada), na construção civil de empreendimentos públicos e privados etc. “Entretanto, a notícia melhorou o ânimo, e resultou na expectativa de crescimento de 0,8% em 2019”, disse. Análise de cenários EFEITO LIMITADO - Para Marcos, a Reforma da Previdência sozinha não vai recuperar os investimentos no Brasil, pois ainda existe uma ocio- sidade de cerca de 25% na indústria, que é o motor do crescimento da economia. “Estamos com um baixo uso da capacidade instalada. E o empresário não vai investir neste mo- mento”, disse, ressaltando a impor- tância das parcerias público-privadas para a retomada mais substancial dos investimentos. Mesmo assim, segundo o painelis- ta, o setor calçadista projeta crescer 3% na produção em 2019, alcan- çando 972 milhões de pares, tendo como base o volume de embarques realizados ao longo do ano. Produção de calçados deve crescer Logo em seguida foi a vez da coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, divulgar as suas projeções. Se- gundo ela, mesmo se confirmar os 3% projetados por Marcos, o setor ainda não recupera as quedas dos anos anteriores. Ela disse, ainda, que o re- sultado da produção deve ser puxado pelo incremento nas exportações, na casa de 10%, alcançando quase 125 milhões de pares. Já a expectativa de crescimento no mercado interno, que absorve 86% da produção de calçados, é de 0,8%. A economista também falou sobre o efeito da guerra comercial entre EUA e China e do acordo entre Mercosul e União Europeia. Segundo ela, o impasse comercial entre as duas potências gera oportunidades para o produto brasileiro, mas tam- bém para o calçado de outros países, especialmente Vietnã e Indonésia. Priscila destacou que, no período de guerra tarifária, os dois países asiáticos aumentaram respectiva- mente 1,8% e 0,3% a participação no mercado norte-americano. Já o Brasil cresceu 0,2% em marketshare. Além disso, a China acaba pulverizando suas exportações para outros merca- dos, inclusive para o Brasil. Com relação ao acordo entre Mercosul e UE, ela destacou que o efeito deve ser positivo para o cal- çado nacional, mas a parceria ainda precisa ser selada por todos os países envolvidos, o que irá demandar mais tempo para entrar em vigência. Após a implantação do acordo, os países ainda terão um prazo de desgrava- ção tributária - de 7 a 10 anos - até zerar as tarifas de importação. “En- trando em vigência, o acordo deve ter um efeito positivo, especialmente para os exportadores de calçados de couro, já que 60% dos produtos brasileiros que entram na Europa são com esse material”, concluiu. Na sequência, aconteceu um painel com Luciano D’Andrea (Fiergs) e Rosnaldo Silva (Calçados Bibi), mediado por Marcos e Priscila. Os participantes falaram sobre os desafios da indús- tria calçadista brasileira diante da abertura comercial. Realizadores: Abicalçados, Assintecal e Fenac novembro | dezembro • 17