Revista Tecnicouro Ed. 327 Novembro - Dezembro 2021 | Page 59

Wagner Oliveira observou que para fazer a relação da biomecânica com o desenvolvimento de calçados de performance é preciso ter premissas básicas sobre o que está sendo analisado e qual a aplicabilidade destes resultados . “ Do ponto de vista do esporte , temos diversas modalidades que estão relacionadas com diferentes tipos de movimentos e cada uma delas exige diferentes especificidades . A gente precisa entender o máximo possível sobre os movimentos que o atleta vai fazer naquela modalidade que estará praticando , para que possamos oferecer um produto que atenda todas as suas necessidades ”, assegurou .
Também salientou que quando se fala em calçados esportivos , estamos nos referindo a atletas , um público extremamente exigente , e que busca informação e quer uma entrega real , ou seja , que o calçado não vá atrapalhar no desempenho da sua atividade , mas de algum modo o ajude a melhorar seus movimentos .
Eduardo Wust abriu sua fala lembrando que , “ muitas vezes , o consumidor vai até a loja procurando um calçado específico , que ele viu nos pés do atleta que ele admira . E normalmente não sabe se aquele calçado supre ou é necessário para o desenvolvimento da atividade física que ele vai desenvolver . Mais importante do que estar na moda , é que o calçado chegue ao consumidor com as características que ele precisa , tanto para o seu conforto quanto para auxiliar na performance e proteger o pé e a estrutura física , seja ele profissional ou amador ”, explicou .
Já o coordenador do Laboratório de Materiais do IBTeC , Ademir de Varga , afirmou que “ a concepção começa pelos componentes que serão usados para a produção do calçado . Com isto , se pode entender como estes materiais vão se transformar em um produto , e com que finalidade ”. Falou sobre as contribuições que os laboratórios da instituição podem oferecer para fabricantes de todos os tipos de calçados , a partir da testagem destes materiais . “ O IBTeC pode contribuir para o desenvolvimento de um novo produto , testando matérias antes da concepção do calçado , ou pode testar o calçado pronto , apontando as melhorias que podem ser feitas a partir da mudança de materiais ou tecnologias ”, destacou .
Ademir lembrou ainda a questão da definição de custos para a indústria : “ É importante avaliar não apenas a qualidade e as características dos materiais , mas precisamos auxiliar as indústrias a adaptarem a concepção do projeto ao seu teto de investimentos , em função do mercado ao qual ela se dedica ”, assegurou .
Qual o futuro para o calçado ?
O mediador provocou os painelistas a fazerem um exercício de projeção do futuro dos calçados . Victor Barbieratto destacou o custo como um fator muito importante , mas o principal é o foco . “ Hoje temos um problema muito grande com os consumidores em geral , que não são os atletas de performance , e que se espelham em seus ídolos da área esportiva para comprar calçados para suas práticas , sejam profissionais ou amadoras ”. Do ponto de vista de construção dos calçados , ele lembra que o peso das pessoas é hoje uma influência muito importante no design de calçados . “ O excesso de peso está em todas as sociedades , e é importante que haja uma preocupação com esta questão . Para o futuro , componentes que proporcionem refrigeração e mantenham o pé confortável durante um dia inteiro são outro aspecto que terá que ser avaliado ”, esclareceu . No seu entendimento , o consumidor quer as maiores facilidades e conforto em todos os momentos de sua vida , como um calçado que se ajuste sozinho , seja leve , resistente , durável e barato . “ Este é e sempre será o desafio para os fabricantes ”, definiu .
Wagner Oliveira afirmou que a indústria de uma maneira geral está muito focada na sola e dando pouca atenção para o material do cabedal . “ Isso deve ser repensado pelos fornecedores de materiais , pois o cabedal tem também uma importância extremamente grande nas variáveis biomecânicas ”, instigou . Ele também salientou outro aspecto , que é a entrada de algumas tecnologias no calçado . “ Estamos entrando na era do calçado com placas de carbono e diferentes espumas na entressola , para gerar mais performance e conforto . Penso que temos ainda alguns cinco a dez anos de paradigma para os implementos na entressola ”, considerou .
Para Eduardo Wüst , quanto mais respostas se obtém ao longo do tempo , através dos estudos e novas tecnologias , muito mais perguntas também vão surgindo . Falou também das facilidades que os usuários querem . “ No futuro , se pudermos ter um único calçado para fazer tudo , seria uma facilidade enorme . Poderia ser o calçado de trabalho , de corrida , de academia ”, sugeriu , lembrando que a busca por calçados mais adaptáveis com um custo menor é realmente um grande desafio .
novembro | dezembro • 59