OPINIÃO
A Confecção
4.0 deve
traduzir
na roupa a
diversidade
corporal
feminina
“
são oito, os
biótipos femininos
utilizados
no País
“
Cristiane Santos de Carvalho
especialista em Ergonomia e
professora de cursos técnicos e
de graduação do Senai CETIQT
Barbara Poci
especialista em Design de Estamparia e
em Didática do Ensino Superior e
professora de cursos técnicos e
de graduação do Senai CETIQT
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• março | abril
A
ditadura do corpo perfeito
é algo que realmente mexe
com as mulheres. Mas qual
seria o corpo perfeito? No Brasil, os cor-
pos femininos têm vários padrões, uma
vez que a população é fruto de uma
enorme miscigenação. O corpo violão,
que trouxe fama mundial às curvas da
mulher brasileira, já não é o mais en-
contrado por aqui. As formas brasileiras
agora ganham destaque no mundo por
sua diversidade.
Estudo recente trouxe à tona uma
discussão sobre os biótipos brasileiros
e a tentativa de homogeneização do
corpo feminino pela mídia e pela moda.
O corpo vem sendo vítima de modismos
cíclicos e passageiros. A subordinação
feminina aos padrões de beleza é cada
vez mais intensa. Os efeitos causados
nas mulheres, que tentam se adequar a
essa padronização, podem levar a sérios
problemas psicológicos e de saúde. São
tentativas de esculpir os corpos a todo
custo, com atividades físicas de grande
intensidade, cirurgias plásticas e uma
infi nidade de procedimentos estéticos.
Os noticiários exibem reportagens
sobre casos de morte de mulheres por
causa da busca desenfreada por corpos
‘perfeitos’.
É preciso que as mulheres aceitem
o seu corpo - seja ele de que tipo for
-, aprendam a lidar com suas formas
e aperfeiçoá-las, se for o caso, mas
pensando essencialmente na saúde e
bem-estar. E a roupa tem papel primor-
dial nesse processo. O Senai CETIQT
produziu um estudo antropométrico
que considera a diversidade das formas
brasileiras no desenvolvimento de mo-
delagens que levem em conta tabelas
de medidas industriais que mensuram
proporções atuais. Essas modelagens
já são aplicadas por professores e
alunos do curso de Design de Moda da
instituição.
Com base em uma análise de quatro
medidas corporais principais - busto,
cintura, quadril e quadril alto - de
aproximadamente seis mil mulheres,
chegou-se a uma tabulação que amplia
de cinco para oito, os biótipos femininos
utilizados no País. E sinto dizer que a
maioria das formas corporais encontra-
das nesta pesquisa não é aquela tida
como ideal no imaginário coletivo.
O sonho da maioria das mulheres
é ter um corpo com formas esculturais
e proporcionais, como encontramos no
biótipo ampulheta. O estudo revelou,
porém, que a forma corporal que mais
prevalece na população feminina brasi-
leira é o biótipo retangular, ou seja, um
corpo pouco curvilíneo.
É preciso entendermos o corpo
como uma estrutura fi siológica, refl exo
de nós mesmos, dentro de um contexto
político, social e cultural. E, como cúm-
plice dessa comunicação corporal, está
a roupa. Quantas mulheres já entraram
em cabines para experimentar peças
que parecem não terem sido feitas para
seu tipo de corpo? Essa difi culdade
no que se pode vestir ajuda na busca
incessante pelo corpo ideal determi-
nado por um padrão de beleza cole-
tivo. Espera-se, então, que a partir do
estudo antropométrico desenvolvido no
Senai CETIQT, cada vez mais designers,
modelistas, confeccionistas e todos os
outros segmentos da área de produção
do vestuário possam desenvolver roupas
baseadas em corpos reais, aqueles
mesmos que desfi lam pelas ruas e são a
fotografi a da sociedade brasileira.
Outra esperança que promete
revolucionar a forma de consumir roupa
é a Confecção 4.0. Não haverá mais
estoques abarrotados de peças padroni-
zadas que parecem servir para apenas
meia dúzia de mulheres. No lugar,
teremos espelhos virtuais ou scanners,
que irão tirar as medidas reais de cada
mulher, com a roupa sendo confecciona-
da com base em seu biótipo. Parece coi-
sa de outro mundo, não é mesmo? Mas
está bem perto de virar realidade. Que
a 4ª Revolução Industrial seja também
a revolução que faltava para que cada
vez mais mulheres se aceitem como
são. Que a forma corporal almejada
seja aquela que traga saúde e não um
conjunto de padrões estéticos veiculado
pela mídia, chancelado pela moda e
esculpido pela medicina estética.