OPINIÃO
Contabilidade
gerencial:
você
realmente
entende o
que é dívida e
lucro na sua
empresa?
“
“
ter ideias e
iniciar um
negócio não é
nem o começo
Adão Lopes
mestre em tecnologia e
negócios eletrônicos e
CEO da Varitus Brasil
70
• setembro | outubro
G
estão fi nanceira não é uma
tarefa simples. Poucos
sabem lidar bem com a real
compreensão do que é uma dívida
e como ela se manifesta no históri-
co fi nanceiro de uma empresa. Isso
leva ao erro de conduzir as entradas
de forma iludida na hora de pagar
contas e contar com investimentos.
Isso é ainda pior quando se considera
o que é lucro. É por isso que por mais
empreendedor que seja o espírito de
muitos brasileiros, ter ideias inteligen-
tes e iniciar um negócio não é nem o
começo da real batalha que é ter uma
empresa. Não é estranho que a taxa
de mortalidade dessas seja tão alta
e a maioria não passe dos primeiros
quatro anos.
Não é uma questão de ganhar
muito dinheiro de uma vez, mas
sim de gerir bem o que é ganho. O
mercado tem altos e baixos, e mesmo
que os lucros sejam constantes e
elevados, se não há uma atenção às
saídas, logo o que era muito passa a
ser insufi ciente. Gastar mais do que se
tem, contar com entradas que ainda
não aconteceram, é um comporta-
mento comum. Contar com as saídas
que ainda não aconteceram, mas vão
ocorrer com certeza, isso é um pouco
mais difícil, sobretudo porque muitas
vezes não há uma compreensão total
de quantas e quais são essas saídas.
É por isso que gestão fi nanceira anda
lado a lado com a contabilidade
gerencial. Esta proporciona ao gestor
estruturação contábil, demonstrativos
e informações sobre a realidade da
saúde fi nanceira do negócio.
A projeção do fl uxo de caixa vai
considerar em que meses haverá
quais parcelas das saídas, e qual o
lucro real para cada momento da
empresa. Isso evita que dinheiro que
entra e sai sejam considerados de
forma errada. Isso ainda evita contrair
novos débitos para sanar dívidas
anteriores, que muitas vezes vem com
juros mais altos no futuro. A verdade
é que a contabilidade gerencial é
essencial como ferramenta de análise
dos dados econômicos da empresa, e
isso serve para todos os tamanhos de
empresa.
Interpretar os dados não é sim-
ples, mas a metas traçadas são muito
melhor compreendidas, é possível
apurar custos, usar de forma adequa-
da o orçamento da empresa, identifi -
car os pontos de alta de baixa de de-
sempenho, indicando onde é preciso
mais investimento ou maior ou menor
esforço, isso sem considerar o plane-
jamento tributário, e a determinação
de momentos de altas ou baixas de
preços (quando é necessário ser mais
ou menos agressivo no mercado, com
promoções que visem a ampliar o
número de clientes, por exemplo).
Tudo vai muito além de Receita –
Despesas = Lucro. Há uma ordem de
despesas muito maior do que isso, e
considerações que variam com o tem-
po. Quando essas considerações são
ignoradas, dívidas se formam. Uma
dívida é algo que não está previsto,
ou está em atraso, algo que foge ao
controle contábil. Se um custo não se
enquadra nisso, ele não é dívida, ele
é parte do processo. Assim como o
lucro não é o dinheiro que sobrou no
mês, mas é aquilo que realmente se
pode retirar da empresa e que não a
compromete no presente e no futuro,
é algo que está além dos investimen-
tos, é um dinheiro “isento”, por assim
dizer.
Pode parecer simples quando
comentado dessa forma, até mesmo
óbvio, mas a gestão intuitiva ainda é
forte em muitos negócios, sobretudo
os menores. E tudo pode ser facilmen-
te resolvido, através da consideração
analítica da contabilidade gerencial.
Sem isso, são cada vez mais tiros no
escuro. Os processos são complexos,
há cálculos a serem considerados,
que nem todos estão aptos a fazer,
dai a importância do contador. Essa
estrada é longa e cheia de percalços,
e sem compreender o caminho é
impossível ir adiante.