Revista Tecnicouro - Ed. 314: completa Ed. 314 - completa | Page 70

OPINIÃO Contabilidade gerencial: você realmente entende o que é dívida e lucro na sua empresa? “ “ ter ideias e iniciar um negócio não é nem o começo Adão Lopes mestre em tecnologia e negócios eletrônicos e CEO da Varitus Brasil 70 • setembro | outubro G estão fi nanceira não é uma tarefa simples. Poucos sabem lidar bem com a real compreensão do que é uma dívida e como ela se manifesta no históri- co fi nanceiro de uma empresa. Isso leva ao erro de conduzir as entradas de forma iludida na hora de pagar contas e contar com investimentos. Isso é ainda pior quando se considera o que é lucro. É por isso que por mais empreendedor que seja o espírito de muitos brasileiros, ter ideias inteligen- tes e iniciar um negócio não é nem o começo da real batalha que é ter uma empresa. Não é estranho que a taxa de mortalidade dessas seja tão alta e a maioria não passe dos primeiros quatro anos. Não é uma questão de ganhar muito dinheiro de uma vez, mas sim de gerir bem o que é ganho. O mercado tem altos e baixos, e mesmo que os lucros sejam constantes e elevados, se não há uma atenção às saídas, logo o que era muito passa a ser insufi ciente. Gastar mais do que se tem, contar com entradas que ainda não aconteceram, é um comporta- mento comum. Contar com as saídas que ainda não aconteceram, mas vão ocorrer com certeza, isso é um pouco mais difícil, sobretudo porque muitas vezes não há uma compreensão total de quantas e quais são essas saídas. É por isso que gestão fi nanceira anda lado a lado com a contabilidade gerencial. Esta proporciona ao gestor estruturação contábil, demonstrativos e informações sobre a realidade da saúde fi nanceira do negócio. A projeção do fl uxo de caixa vai considerar em que meses haverá quais parcelas das saídas, e qual o lucro real para cada momento da empresa. Isso evita que dinheiro que entra e sai sejam considerados de forma errada. Isso ainda evita contrair novos débitos para sanar dívidas anteriores, que muitas vezes vem com juros mais altos no futuro. A verdade é que a contabilidade gerencial é essencial como ferramenta de análise dos dados econômicos da empresa, e isso serve para todos os tamanhos de empresa. Interpretar os dados não é sim- ples, mas a metas traçadas são muito melhor compreendidas, é possível apurar custos, usar de forma adequa- da o orçamento da empresa, identifi - car os pontos de alta de baixa de de- sempenho, indicando onde é preciso mais investimento ou maior ou menor esforço, isso sem considerar o plane- jamento tributário, e a determinação de momentos de altas ou baixas de preços (quando é necessário ser mais ou menos agressivo no mercado, com promoções que visem a ampliar o número de clientes, por exemplo). Tudo vai muito além de Receita – Despesas = Lucro. Há uma ordem de despesas muito maior do que isso, e considerações que variam com o tem- po. Quando essas considerações são ignoradas, dívidas se formam. Uma dívida é algo que não está previsto, ou está em atraso, algo que foge ao controle contábil. Se um custo não se enquadra nisso, ele não é dívida, ele é parte do processo. Assim como o lucro não é o dinheiro que sobrou no mês, mas é aquilo que realmente se pode retirar da empresa e que não a compromete no presente e no futuro, é algo que está além dos investimen- tos, é um dinheiro “isento”, por assim dizer. Pode parecer simples quando comentado dessa forma, até mesmo óbvio, mas a gestão intuitiva ainda é forte em muitos negócios, sobretudo os menores. E tudo pode ser facilmen- te resolvido, através da consideração analítica da contabilidade gerencial. Sem isso, são cada vez mais tiros no escuro. Os processos são complexos, há cálculos a serem considerados, que nem todos estão aptos a fazer, dai a importância do contador. Essa estrada é longa e cheia de percalços, e sem compreender o caminho é impossível ir adiante.