Revista Sindesp-RJ Revista Segurança Privada Edição Março 2019 | Page 25

ARTIGO dadeiros norteadores da atuação da segurança nos postos de serviço. Cada vez mais se torna importante que as empresas de Segurança Privada de- senvolvam boas análises de risco e planejamentos técnicos que permitam fazer ver aos clientes os perigos que pesam sobre seus negócios, como tais problemas possam ser contornados, assim como eventuais limitações da segurança dadas as condições estru- turais e dos processos. Como o novo Governo elegeu o combate à criminalidade como prioridade, os bandidos buscam agora desafiar abertamente o Estado Os clientes, extremamente focados na sua perspectiva de negócio e em sua maioria completamente ignorantes no que tange à boa técnica de segu- rança, precisam ser efetivamente es- clarecidos da responsabilidade que lhes cabe e da inviabilidade de garan- tir locais de altíssima vulnerabilidade com efetivos diminutos e sem a reali- zação de obras físicas adequadas ou da instalação de equipamentos de pro- teção. Um importante trabalho das áre- as técnicas das empresas prestadoras de serviço e mostrar tudo o que pode e o que não pode ser feito, deixando claro para os eventuais contratantes que a segurança que eles buscam não pode ser obtida sem o voluntário engajamento de gestores e funcioná- rios. A elaboração de normas e proce- dimentos, tanto para a vigilância, quan- to para o corpo de funcionários e even- tuais visitantes ou terceiros, reveste- se de uma importância fundamental, sendo obrigação de TODOS assegu- rar seu cumprimento. A legislação da Segurança Privada precisa acompanhar as necessidades de proteção de instalações, vidas e patrimônio no âmbito desses sombri- os “novos tempos”, onde numerosos grupos criminosos, numerosos e bem armados, vêm praticando ações com crescente sofisticação, ousadia e vio- lência. Projetos legislativos que hoje tramitam no Congresso Nacional au- torizam os vigilantes do transporte de valores ao emprego de pistolas calibre .40" S&W e .380" ACP, bem como a utilização de fuzis calibre 5,56x45mm e até 7,62x51mm, desde que o profis- sional tenha sido aprovado em um trei- namento específico para o manuseio e emprego desses armamentos. Os projetos, em sua própria justificativa, esclarecem que seu objetivo é o de ga- rantir maiores chances de sobrevivên- cia aos vigilantes que trabalham nos carros fortes e escoltas; contudo eu vou além: a necessidade de rever o ar- mamento que possa ser portado pelos vigilantes privados também deve atin- gir aqueles que trabalham em instala- ções fixas, guarnecendo desde tesou- rarias e depósitos de numerário, até grandes indústrias, instalações logísticas e infraestruturas que hoje, como vemos no Ceará, vêm sendo alvo de ataques terroristas do crime. Não se pode, nos dias de hoje, acreditar que se possa defender tais alvos com sim- ples revólveres calibre. 38"SPL, numa situação em que os criminosos estão armados de AR-15, G-3, AK-47 e che- gam a empregar fuzis anti-material de calibre .50"! Os efetivos de segurança precisarão ser continuamente treinados e está cla- ro que um diferencial de qualidade das empresas será uma reciclagem constan- te dos funcionários, direcio-nando esfor- ços para adequá-los à segurança de seus postos de serviço específicos. Enfrentando a guerrilha do crime nós precisamos nos precaver e apren- der a lidar com táticas não-convencio- nais do adversário. O poder paralelo do tráfico criou, na prática, áreas onde as lideranças criminosas veladamente mandam e onde as pessoas e empre- sas acabam tendo de se submeter a chantagens e extorsões. Há locais onde os responsáveis pela segurança (incluindo vários gerentes das empre- sas prestadoras de serviço de segu- rança) se transformaram em autênti- cos negociadores, buscando minimizar o valor de pagamentos exigidos pela criminalidade. Por força do temor im- posto pelos criminosos que exercem sobre tais locais, inúmeras empresas grandes já mudaram suas sedes e che- garam mesmo a sair de cidades como o Rio de Janeiro. Ressalte-se também que tudo aqui se agrava pelo discurso, até bem pouco tempo dominante da mídia, das ONGs e dos “violenció- logos” que concitava as pessoas a sempre fazerem por menos, não rea- girem e se submeterem às ordens e exigências emanadas dos criminosos. A Segurança Privada precisa manter sua credibilidade oferecendo a segurança que o Estado não consegue mais proporcionar Acredito que levará alguns anos até que consigamos reverter toda uma ideia de desvalorização dos profissio- nais da segurança frente a uma criminalidade tão protegida por um dis- curso de complacência e concita os ci- dadãos à submissão; mas, enquanto isso por fim não acontece, as empre- sas de Segurança Privada, bem cons- tituídas e legalizadas, com seu efetivo habilitado e bem treinado, se constitu- em na única opção para as instituições que necessitam proteger-se e ao seu patrimônio de toda uma sorte de ris- cos do qual o Estado, infelizmente, não consegue salvaguardá-las. Vinicius Domingues Cavalcante Consultor em Segurança e Diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança - ABSEG (www.abseg.org.br) REVISTA SEGURANÇA PRIVADA 25