Revista Setembro Jornal Manauara - setembro 2018 | Seite 6

DESENVOLVIMENTO PESSOAL

DESENVOLVIMENTO PESSOAL

Chefes desconfiados e controladores derrubam produtividade no país

A baixa produtividade nas empresas brasileiras está mais relacionada a fatores culturais do que a falhas na educação formal. A falta de confiança endêmica dentro e fora das organizações cria uma distância muito grande entre quem está no topo planejando tarefas e quem as executa no dia a dia. Essa realidade afeta a nossa produtividade e nos derruba nos rankings globais de inovação, uma vez que a desconfiança faz com que gestores não dividam metas e não acreditem que as pessoas sejam capazes de dar conta do recado. O resultado é uma gestão baseada em controles excessivos que acabam inibindo a criação de algo realmente novo. Essa é uma das constatações de um amplo estudo chamado " Confiança e Produtividade no Brasil ", realizado pelos pesquisadores Marco Tulio Zanini e Carmen Migueles, ambos professores doutores da Ebape / FGV e da Fundação Dom Cabral, também sócios-fundadores da consultoria Symbállein. Ao longo de 16 anos, eles estudaram 40 empresas de grande e médio portes buscando isolar os fatores que explicam o baixo desempenho da economia e das organizações brasileiras, tendo como referência os principais rankings globais( Banco Mundial, OCDE, OMPI e Fórum Econômico Mundial). Foram aplicados 1.620 questionários que geraram a maior base de dados do mundo sobre confiança em empresas privadas, segundo os pesquisadores. Carmen explica que desde a década de 80 estudiosos procuram entender a relação entre cultura e desempenho econômico, mas pela primeira vez nesse estudo eles conseguiram isolar os aspectos culturais que influenciam a capacidade das organizações de aumentar a sua produtividade. Os autores identificaram o que chamam de " passivos organizacionais " da cultura brasileira que consomem tempo, energia e que resultam em perdas de competitividade e produtividade. Entre eles, está a distância entre o poder e a base, a baixa confiança que faz com que exista um excesso de regras e controles que engessam a cooperação interna, a pouca disciplina pessoal e o foco exagerado no curto prazo. A boa notícia, segundo os autores, é que como a questão da baixa produtividade no Brasil está relacionada a comportamento e a modelos de gestão, trata-se de um quadro que pode ser revertido. " É possível neutralizar o impacto da nossa herança cultural nas nossas organizações ", diz Carmen. Para que isso aconteça, será preciso exercitar a liderança compartilhada e manter a disciplina organizacional. Embora estudos mostrem que a confiança é maior em sociedades mais homogêneas e igualitárias, o que não é o caso do Brasil, que está entre os dez países mais desiguais do mundo, é possível avançar na construção de uma maior cooperação interna nas empresas. " As companhias que conseguem isso dão um salto enorme de efetividade."
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