Revista Sesvesp Ed.124 | Page 22

OPINIÃO LUIZ MARINS "Eu quase esperei" Antropólogo e escritor (www.marins.com.br) L 22 | Revista SESVESP uís XIV, rei da França (1638-1715), o Rei Sol, monarca absolutista, déspota, que dizia: "O Estado sou eu", ao verificar que sua carruagem só chegava na hora exata por ele marcada, certa vez disse: "J'ai failli attendre", "Eu quase esperei". O que isso tem a ver com os dias atuais? Com a empresa e o cliente de hoje? Com a globalização, a competição acirrada do mercado, com tantos concorrentes em busca do mesmo cliente e tantas opções de compra, hoje o cliente virou um rei. Um rei déspota, intolerante, exigente, que sabe possuir o poder absoluto. O cliente comporta-se como Luís XIV e diz: "O mercado sou eu". E espera que todos o sirvam, bajulem, façam mesuras e rapapés. Se for mal atendido, o cliente simplesmente mata a empresa de sua mente e de suas opções e manda matar essa empresa como fornecedora de produtos e serviços para seus negócios. Ele não aceita esperar, quer tudo na hora, já! E quando servirmos e atendermos o cliente na hora e da forma exata exigida, ele ainda dirá: "Eu quase esperei...". É uma realidade sem volta. Essa tirania do cliente dificilmente passará. Cada vez mais o poder passará das mãos das empresas para as dos clientes. Ele sabe e saberá cada vez mais fazer uso desse poder em seu favor, pouco se importando com qualquer dificuldade que a empresa possa alegar ou justificar. Essa nova realidade requer um novo comportamento das empresas e dos profissionais: trata-se do senso de urgência. O cliente não aceita mais esperar. E, se você deixá-lo esperar, com certeza o perderá. Quando um cliente lhe disser: "Quando você se lembrar, puder ou passar pela minha empre- sa, traga seus catálogos, preços etc. que eu quero dar uma olhada. Não estou sequer pensando em comprar. É só para conhecer...", por favor, não acredite! O que ele quer dizer é traga já! e o que realmente gostaria de dizer, mas não diz, é você já deveria saber que eu iria querer conhecer seus catálogos e seus preços, e eles já deveriam estar em minhas mãos! Se você demorar para levar seu material a esse cliente potencial, quando lá chegar terá a surpresa de ver que ele já comprou de seu concorrente. "Mas você disse que não estava sequer pensando em comprar, por isso só trouxe hoje, quando passei por aqui." Ele dirá: "É verdade! Eu não queria comprar, mas seu concorrente passou aqui ontem e, conversando, fechamos negócio. Gostaria de comprar de você, mas ele apareceu antes e...". Você perdeu a venda por uma hora, um dia, dois dias! A falta de senso de urgência tem feito com que empresas percam negócios excelentes. O cliente simplesmente não espera mais! Ele tem um valor de tempo que muitas empresas não enxergaram. Ele quer tudo na hora, já! Não quer mais "quase esperar", como reclamou Luís XIV. Em vez de reclamar e chorar, para sobrevivermos nestes novos tempos como empresas e profissionais temos de servir a esse rei absolutista e déspota que se chama cliente e, mais do que satisfazê-lo, devemos antecipar seus desejos e estar com a nossa carruagem onde ele estiver, antes da hora por ele marcada. Se quisermos conquistar e manter esse rei como cliente, temos de surpreendê-lo, encantá-lo. Mesmo assim, ainda podemos dele ouvir: "Eu quase esperei...". Pense nisso. Corra! Sucesso!