Revista Sesvesp Ed. 149 | Page 18

CASO SENAC CEARÁ ENTREVISTA: RICARDO TADEU CORRÊA - ABCFAV Em entrevista à Revista SESVESP, o presidente da ABCFAV (Associação Brasileira dos Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Vigilantes), Ricardo Tadeu Corrêa, relata a contro- vérsia relativa ao surgimento de cursos do Senac de formação de vigilantes. Tal iniciativa se iniciou em Fortaleza (CE), onde o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial criou sua própria escola de formação de vigilan- tes, por meio de recursos levantados pelo presidente local da Federação do Comércio e do Conselho do Sesc/Se- nac. O dirigente da ABCFAV lembra que as empresas desse segmento já são contribuintes do Sistema S. Fato que levanta questionamentos sobre os motivos do Senac em atuar diretamen- te na atividade fim. Confira abaixo os principais pontos da entrevista. O QUE ESTÁ OCORRENDO EM RELAÇÃO AOS CURSOS DE FORMA- ÇÃO NO CEARÁ? RICARDO: Na verdade ocorre em todo o Brasil o sucateamento dos centros de formação, em todos os estados, há anos, as escolas como todo o setor sofre em trabalhar com constante redução de custos. Porém, sabemos que reduzir custos nesta atividade é sem duvida nenhuma deixar de entregar parte dos serviços ora contratados. Especificamente no Ceará as escolas estão sofrendo uma nova ameaça, o SENAC está criando uma escola voltada para o público da segurança Privada. É sabido que um empresário de Se- gurança Privada do Ceará entrou com pedido de autorização de uma Escola de Formação de Vigilantes em Fortale- za com a bandeira do SENAC. Sendo ele Presidente da FECOMÉR- CIO local, ele também é Presidente 18 Revista SESVESP do Conselho do SESC/SENAC e, de alguma maneira, conseguiu recursos do SENAC para esse projeto, cuja escola receberá o nome de SENAC, com proposta de Formação, especia- lização e Reciclagem de Vigilantes daquela cidade. ESSE PROBLEMA AFETA OS EM- PRESÁRIOS QUE JÁ ESTÃO ESTA- BELECIDOS NA ÁREA? R: Sim, claro, os empresários das es- colas do Ceará estão preocupados com a concorrência desleal. Como que uma entidade que é mantida pelos próprios empresários pode se tornar concorrente?. É sabido que o sistema S recebe recur- sos públicos. E são estes recursos que subsidiarão atividades privadas? In- dependentemente das nossas posições ideológicas, vejo sempre com muitas reservas os discursos execradores da presença do Estado na economia e, do outro lado, quando a conveniência se ajusta, a utilização de recursos públi- cos em beneficio de atividade privada. É inegável a contribuição do siste- ma S na formação profissional em alguns setores. Mas também não é difícil identificar anomalias, prin- cipalmente o custo desta formação para uma parcela destes trabalhado- res, quando tal custo deveria ser zero ou no nível da razoabilidade. Isto nos leva a questionar os custos e a filosofia do sistema. Ademais, quando se propõe algo deste naipe, imagina-se que possa agregar novidades em relação a tecnologias, estrutura e qualidade. O que não nos pa- rece visível, senão mais um concorrente barato e com uso de verba pública. ESSA SITUAÇÃO PODE OCORRER EM OUTROS ESTADOS TAMBÉM? R: Talvez, depende muito dos re- presentantes dos estados. QUAIS SÃO OS INTERESSES QUE ESTÃO ENVOLVIDOS? POR QUE O SENAC QUER ENTRAR NESSA ÁREA? R: Esta é a pergunta de um milhão de reais. Não sabemos os reais interesses, e se existem, até porque sabemos o quanto o setor sofre para poder cobrar o valor justo pelos serviços prestados e o Senac não conseguirá elevar estes valores. Por outro lado a pressão da FENAVIST em buscar de recuperar parte do que todo o setor recolhe para o sistema S em devolutiva, em treina- mento para seus profissionais. COMO O SENHOR ACHA QUE ESSA SITUAÇÃO PODE SER RESOLVIDA? R: Acredito que com força de vontade de todos os atores, FENAVIST, ABC- FAV e SENAC poderemos escrever uma parceria conjunta, não só para diminuir os custos para as empresas de segurança, mas principalmente em elevar a quali- dade dos treinamentos, com o apoio de recursos didáticos do SENAC. HÁ DE FATO UMA GUERRA NO SE- TOR? QUEM A ESTÁ TRAVANDO? R: Depende o que você entende como guerra. De um lado, o setor busca reaver seus créditos no sistema S, por outro, as escolas buscam não serem extintas. Entendo que, apesar de toda esta divergência, temos que buscar convergir e, principalmente, buscar ceder alguns pontos para que o resultado seja satisfatório para todos os envolvidos. O que assusta aos empresários da categoria Centro de Formação é que quem devia nos representar não o faz. Principalmente quando enxergam vantagens para maioria. Aí, a minoria corre este risco.