CASO SENAC CEARÁ
ENTREVISTA: RICARDO TADEU CORRÊA - ABCFAV
Em entrevista à Revista SESVESP, o
presidente da ABCFAV (Associação
Brasileira dos Cursos de Formação
e Aperfeiçoamento de Vigilantes),
Ricardo Tadeu Corrêa, relata a contro-
vérsia relativa ao surgimento de cursos
do Senac de formação de vigilantes.
Tal iniciativa se iniciou em Fortaleza
(CE), onde o Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial criou sua
própria escola de formação de vigilan-
tes, por meio de recursos levantados
pelo presidente local da Federação do
Comércio e do Conselho do Sesc/Se-
nac. O dirigente da ABCFAV lembra
que as empresas desse segmento já
são contribuintes do Sistema S. Fato
que levanta questionamentos sobre os
motivos do Senac em atuar diretamen-
te na atividade fim. Confira abaixo os
principais pontos da entrevista.
O QUE ESTÁ OCORRENDO EM
RELAÇÃO AOS CURSOS DE FORMA-
ÇÃO NO CEARÁ?
RICARDO: Na verdade ocorre em
todo o Brasil o sucateamento dos
centros de formação, em todos os
estados, há anos, as escolas como
todo o setor sofre em trabalhar com
constante redução de custos. Porém,
sabemos que reduzir custos nesta
atividade é sem duvida nenhuma
deixar de entregar parte dos serviços
ora contratados. Especificamente no
Ceará as escolas estão sofrendo uma
nova ameaça, o SENAC está criando
uma escola voltada para o público da
segurança Privada.
É sabido que um empresário de Se-
gurança Privada do Ceará entrou com
pedido de autorização de uma Escola
de Formação de Vigilantes em Fortale-
za com a bandeira do SENAC.
Sendo ele Presidente da FECOMÉR-
CIO local, ele também é Presidente
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Revista SESVESP
do Conselho do SESC/SENAC e, de
alguma maneira, conseguiu recursos
do SENAC para esse projeto, cuja
escola receberá o nome de SENAC,
com proposta de Formação, especia-
lização e Reciclagem de Vigilantes
daquela cidade.
ESSE PROBLEMA AFETA OS EM-
PRESÁRIOS QUE JÁ ESTÃO ESTA-
BELECIDOS NA ÁREA?
R: Sim, claro, os empresários das es-
colas do Ceará estão preocupados com
a concorrência desleal. Como que uma
entidade que é mantida pelos próprios
empresários pode se tornar concorrente?.
É sabido que o sistema S recebe recur-
sos públicos. E são estes recursos que
subsidiarão atividades privadas? In-
dependentemente das nossas posições
ideológicas, vejo sempre com muitas
reservas os discursos execradores da
presença do Estado na economia e, do
outro lado, quando a conveniência se
ajusta, a utilização de recursos públi-
cos em beneficio de atividade privada.
É inegável a contribuição do siste-
ma S na formação profissional em
alguns setores. Mas também não é
difícil identificar anomalias, prin-
cipalmente o custo desta formação
para uma parcela destes trabalhado-
res, quando tal custo deveria ser zero
ou no nível da razoabilidade.
Isto nos leva a questionar os custos e a
filosofia do sistema.
Ademais, quando se propõe algo deste
naipe, imagina-se que possa agregar
novidades em relação a tecnologias,
estrutura e qualidade. O que não nos pa-
rece visível, senão mais um concorrente
barato e com uso de verba pública.
ESSA SITUAÇÃO PODE OCORRER
EM OUTROS ESTADOS TAMBÉM?
R: Talvez, depende muito dos re-
presentantes dos estados.
QUAIS SÃO OS INTERESSES QUE
ESTÃO ENVOLVIDOS? POR QUE O
SENAC QUER ENTRAR NESSA ÁREA?
R: Esta é a pergunta de um milhão de
reais. Não sabemos os reais interesses,
e se existem, até porque sabemos o
quanto o setor sofre para poder cobrar
o valor justo pelos serviços prestados
e o Senac não conseguirá elevar estes
valores. Por outro lado a pressão da
FENAVIST em buscar de recuperar
parte do que todo o setor recolhe para
o sistema S em devolutiva, em treina-
mento para seus profissionais.
COMO O SENHOR ACHA QUE ESSA
SITUAÇÃO PODE SER RESOLVIDA?
R: Acredito que com força de vontade
de todos os atores, FENAVIST, ABC-
FAV e SENAC poderemos escrever uma
parceria conjunta, não só para diminuir
os custos para as empresas de segurança,
mas principalmente em elevar a quali-
dade dos treinamentos, com o apoio de
recursos didáticos do SENAC.
HÁ DE FATO UMA GUERRA NO SE-
TOR? QUEM A ESTÁ TRAVANDO?
R: Depende o que você entende
como guerra. De um lado, o setor
busca reaver seus créditos no sistema
S, por outro, as escolas buscam não
serem extintas. Entendo que, apesar
de toda esta divergência, temos que
buscar convergir e, principalmente,
buscar ceder alguns pontos para que
o resultado seja satisfatório para
todos os envolvidos.
O que assusta aos empresários da
categoria Centro de Formação é que
quem devia nos representar não o faz.
Principalmente quando enxergam
vantagens para maioria. Aí, a minoria
corre este risco.