Revista Sesvesp Ed 139 | Page 16

CENÁRIO ECONÔMICO

ECONOMIA CRESCE LENTAMENTE , MAS O FUTURO DEPENDE DE RESPONSABILIDADE POLÍTICA

O PRÓXIMO MANDATO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA DEVE MANTER A POLÍTICA DE AJUSTES

A

Revista do SESVESP conversou com o professor de economia da FGV-SP e sócio da Gol Associados , Gesner de Oliveira , que falou sobre a atual conjuntura econômica , o ano de 2018 e o que pode ocorrer no próximo mandato presidencial . Para ele , é necessário saber se o futuro governo vai cumprir a agenda de ajustes e manter a atual política econômica , que vem dando sinais de recuperação . Ou seja , o que será de 2019 ? Para Gesner de Oliveira , essa é a grande pergunta para alavancar a economia nacional . Confira as principais respostas .
O que esperar de 2018 ?
Curioso porque , em geral , a economia responde rapidamente à incerteza política . Vivemos no Brasil várias situações que comprovam isso . Temos uma conjuntura na qual , eu diria , que a economia está blindada em curtíssimo prazo . Em 2018 , a economia vai bem obrigado ! Vai crescer , está crescendo até um pouco mais do que o mercado projeta , que é algo em torno de 3 % de crescimento do PIB . Os indicadores apontam claramente nessa situação . E por que a economia está blindada ? Principalmente por uma conjunção de fatores : as contas externas estão com muita folga , diferentemente do passado , como na primeira eleição do Lula , não havia tanta folga nas contas externas . Pelo contrário , tivemos de recorrer ao FMI . Qualquer incerteza , para um lado ou outro no chamado ‘ risco Lula ’, gerava um impacto no dólar muito forte . Hoje , isso não ocorre , pois existem reservas muito elevadas no Banco Central . Não há uma situação de endividamento líquido externo . Portanto , é uma situação muito tranquila , do ponto de vista das contas externas . Há capacidade ociosa e faz todo o sentido do mundo acioná-la . Então , as empresas estão aproveitando . Com a maior recessão da história do país , houve uma alavancagem , ou seja , muito endividamento . As empresas e famílias estavam muito endividadas e isso hoje diminuiu . A capacidade de consumo das pessoas aumentou , a renda vem aumentando modestamente , é verdade , mas vem aumentando . As empresas têm um pouco mais de oxigênio para tocar a vida , há a capacidade ociosa e a economia está crescendo num curtíssimo prazo . Não há um terremoto no mundo , quer dizer , não há um tsunami na economia internacional . Nós temos uma situação externa que ainda é relativamente favorável . Nessas circunstâncias , a economia está dada . Vejam que nós temos a Operação Skala , algo que envolve o Planalto , do outro lado , todo o noticiário que envolve a prisão do ex-presidente Lula e isso tem algum efeito sobre as expectativas , mas não têm nenhum efeito significativo . Agora , depois de 2019 é a grande questão e , por isso , acredito que a variável chave , que acho o mercado está olhando por esse aspecto , ou seja , qual a chance do próximo presidente da República continuar a política econômica , o ajuste da economia ou não ? Essa é a grande chave do enigma futuro .
As pesquisas disponíveis hoje parecem dar o candidato Bolsonaro e a candidata Marina Silva . Suponhamos que isso se consolide , num hipotético segundo turno . Qual seria o impacto disso sobre o chamado mercado ?
Não seria positivo , acho que esse é um cenário possível , naturalmente , pois as pesquisas hoje apontam nessa direção . Eu diria que os dois candidatos se encontram em uma região de certa ambiguidade em relação à política econômica . Tanto Bolsonaro quanto a Marina têm uma biografia e posições pessoais que não estão ligadas a uma política de ajuste , por diferentes razões , embora ambos quando se candidatam e se manifestam procuram assessorias econômicas ou conselheiros econômicos que são a favor de reformas . Paulo Guedes , pelo lado de Bolsonaro , é um economista liberal que propõe reformas mais aprofundadas , e a Marina tem o Eduardo Giannetti , que também é um economista liberal . Porém , são figuras que podemos perguntar : e se eles ( economistas ), ou mesmo os candidatos mudarem de assessorias ? Eles não
Gesner de Oliveira
são um Henrique Meirelles , mas nem nas biografias de ambos há uma convicção na manutenção de ajustes e na política econômica . Uma modernização da economia é de interesse não só do mercado , mas da maioria da população brasileira .
Como a saída de Henrique Meirelles foi vista pelo mercado ? Há viabilidade política para ele e para o próprio presidente Temer ?
Minha percepção é de que o mercado não acredita na viabilidade eleitoral do ex-ministro Henrique Meireles nem do presidente Temer . Veja , hoje temos uma percepção da população , as pesquisas estão aí , que para mais de 65 % há uma percepção de crise . E ela está aí , o país enfrenta uma situação política de grande insatisfação , de polaridade , de radicalismos e não só isso , basta dizer o problema de segurança pública ... Embora a economia tenha tido uma recuperação bastante boa em 2017 e , acredito , bem melhor em 2018 , a população ainda sente problemas sérios do ponto de vista ético . Um desapontamento do que esperam dos seus representantes , enfim uma crise de representatividade que é mundial e no Brasil não se foge à essa regra .
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