Revista Sesvesp Ed. 117 - 2014 | Page 3

EDITORIAL A violência nas ruas e o sono das autoridades D iante da onda crescente de crimi- vezes tornando ainda mais complicada a colcha nalidade que amedronta o País, o de retalhos em que se transformou a legislação Estado deixa a desejar na defesa da brasileira. Muitos dos projetos são irrelevantes, população; as polícias estão sempre aquém das redundantes ou absurdos. necessidades no confronto com a criminalida- O capítulo das redundâncias reserva um es- de. Governantes se queixam da falta de verbas paço para os projetos de lei que procuram re- para investir nos serviços públicos essenciais, gulamentar a figura do “vigia autônomo”, sem como a segurança pública, uma das causas dos vínculo trabalhista. Nada diferencia a atribuição protestos de rua nas grandes cidades. deste vigia com a do vigilante, cuja atividade Mas, se o Executivo não cumpre bem o seu Um parecer da Polícia Federal – responsável cional, ao formular um conjunto de leis brandas por regular, autorizar e fiscalizar as empresas para o combate ao crime cada vez mais perver- de Segurança Privada - deveria encerrar essa so, deixando o Judiciário sem ferramentas para discussão. O documento, da Coordenação-Geral trancafiar os maus elementos responsáveis pela de Controle de Segurança Privada, não deixa barbárie diária contra a sociedade. João Palhuca Presidente do SESVESP está definida na Lei nº 7.102/83 (artigos 10 e 15). papel, pior desempenho é o do Congresso Na- nenhuma dúvida sobre a inconstitucionalida- Multiplicam-se projetos para afrouxar as de das propostas: penas dos condenados (em geral sob a batuta mente a realizar as funções objetivando a guarda humanos”), discute-se a superlotação dos pre- ou proteção do patrimônio de estabelecimentos sídios, mas falta, por exemplo, um debate sério públicos ou privados, prevenindo a ocorrência sobre a redução da maioridade penal. O tema já de ilícitos, realizando rondas nos estabeleci- está maduro para ser submetido ao crivo social. Entre todos os direitos, a proteção à vida é a mais relevante a ser tutelada pelo Estado e, por isso, a segurança deveria estar entre os principais debates políticos do País” “Somente o vigilante está habilitado legal- de entidade que dizem representar os “direitos mentos a fim de evitar a presença de pessoas Entre todos os direitos, a proteção à vida estranhas, cuidando da segurança das pessoas é a mais relevante a ser tutelada pelo Estado no recinto, orientando procedimentos em caso e, por isso, a segurança deveria estar entre os de emergências, realizando revista privada para principais debates políticos do País. Infelizmente entrada em estabelecimento, escoltando pessoas não está, se levarmos em conta as estatísticas ou bens e efetivando o transporte de valores”. de violência. Em certos nichos, a criminalidade se expande. E conclui: “...causa estranheza a figura do “vigia autônomo”... A atividade de segurança O fato é que o Executivo e o Legislativo não privada, considerada em sentido amplo, envol- parecem muito preocupados com a segurança vendo o vigilante e o vigia, sempre traz risco do povo. No nosso caso, que complementamos intrínseco e possibilidade de abusos e danos, a segurança pública, sentimos esse desleixo. sendo necessário o suporte de um capital so- No Executivo, lembramos que dorme em cial mínimo para garantir a solvabilidade em berço esplêndido, na Casa Civil, o Estatuto da benefício de terceiros prejudicados. Ademais, Segurança Privada, formulado para ser um di- profissionais autônomos na atividade de segu- visor de águas do setor, apesar das mutilações rança privada possibilitam o surgimento de mi- que o texto sofreu. Mas traz avanços, como a lícias ou grupamentos nocivos à ordem pública, criminalização do ato de organizar, prestar ou sendo necessário estrito controle por parte do oferecer atividade de segurança privada clandes- Poder Público”. tina. Urge sensibilidade deste Poder para avançar A Polícia Federal simplifica o assunto e suge- nessa área sob pena de ser considerado omisso. re que tudo seja tratado no âmbito do Estatuto No caso do Legislativo, em vez de focar para assuntos relevantes, parlamentares perdem tempo e recursos com projetos de varejo, muitas da Segurança Privada. É isso que deve ser feito, desde que ele saia da gaveta. Edição 117 • 2014 |3| Revista SESVESP