Revista Sesvesp Ed. 110 - novembro / dezembro 2012 | Page 18

TECNOLOGIA Futuro Não Letal O Brasil está passando por um momento de transformações importantes, com crescimento econômico e grandes eventos que vão elevar significativamente a responsabilidade de todo o setor de segurança privada. Novas portarias normativas e a própria reforma do Código Penal prevista para este ano prometem transformar esse mercado no Brasil. Neste contexto, cresce cada vez mais a necessidade de treinamento de qualidade e utilização adequada da forca, o que passa necessariamente pela adoção de tecnologias não-letais, que ajudam a manter a ordem ao mesmo tempo que preservam a vida e a integridade física de agentes de segurança e de todos os evolvidos na situação. Nas competições da FIFA, pela primeira vez a segurança interna dos estádios será feita exclusivamente por empresas privadas. As polícias ficarão responsáveis apenas pela área externa. Nos jogos da Copa das Confederações deste ano e na Copa do Mundo de 2014, o interior dos estádios será inteiramente vigiado e controlado pelos chamados “stewards”, seguranças altamente treinados para lidar com multidões que terão de seguir padrões internacionais de interação com o público e uso progressivo da força. Para garantir a qualiRevista SESVESP dade dos serviços privados, a Polícia Federal publicou em dezembro de 2012 uma portaria regulamentando os Cursos de Extensão em Segurança para Grandes Eventos, pré-requisito para a contratação de qualquer tipo de segurança privada nas competições de 2013, 2014 e 2016. Para Ricardo Balestreri, ex-Secretário Nacional de Segurança e presidente do Observatório do Uso Legítimo da Força, esta é uma mudança de paradigma importante. “O vigilante do estádio terá que estar bem equipado, preparado para lidar com o público com educação e usar progressivamente a força quando necessário”, afirma o especialista. Segundo ele, grandes multidões como as que freqüentam jogos de futebol precisam ser controladas com inteligência, pois mesmo indivíduos pacíficos podem se tornar violentos em determinadas situações. “Quando falamos da importância do uso dos equipamentos não letais, falamos em proteger as próprias pessoas que estão apresentando posturas agressivas ou inadequadas naquele determinado momento”, explica. “Uma multidão pode sair do controle, e o uso de gás lacrimogêneo ou armas de choque pode ser determinante para contornar uma situação adversa sem causar lesões graves a nenhum dos envolvidos”, pontua Ricardo. |18| novembro / dezembro 2012 Diretor de marketing da Condor Tecnologias Não Letais, principal fornecedora desse tipo de equipamento no Brasil, Massilon Miranda lembra que os equipamentos não letais reduzem significativamente a possibilidade de lesões no público e também nos agentes, que podem agir a uma distância segura. “Aqui no Brasil o uso de armas não letais como os dispositivos elétricos incapacitantes, conhecidos como armas de choque, ainda é recente. Mas nos Estados Unidos, onde já são usadas há mais tempo, pesquisas mostraram que eles reduziram em 70% as lesões corporais sofridas por agentes da lei e em 40% as lesões de suspeitos, comprovando sua eficácia”, afirma, citando estudo do Police Executive Research Forum. Novo Código Penal Os números produzidos pela entidade americana que avalia a atuação da polícia ganham ainda mais importância quando levamos em conta o anteprojeto de reforma do Código Penal, que deve ser votado em julho. Entre as mudanças que endurecem as punições estão o aumento da pena mínima de três meses para um ano de prisão e uma descrição mais detalhada de situações que configuram o crime lesão corporal, que será dividido em três graus. De acordo com Ricardo Balestreri, esta é mais uma mudança que vai impulsionar o uso das tecnologias não letais no País. “Será mais interessante para o agente de segurança ter à sua disposição um spray de pimenta ou arma de choque do que utilizar um cassetete, instrumento que pode causar lesões mais graves e abrir a possibilidade da empresa e do trabalhador serem responsabilizados criminalmente