Revista Sesvesp Ed. 107 - maio / junho 2012 | Page 30

OPINIÃO A Solidão do Poder: Uma Visão Solitária T Carlins Ferraz dos Santos Mestre em Psicologia Educacional, MBA – Executivo em Gestão Estratégica Empresarial pelo NAIPPE/USP; Graduado em Administração de Empresas, Psicanalista e Empresário. Para conseguir o equilíbrio necessário no processo decisório, é fundamental que a pessoa conheça suas emoções e tenha controle sobre elas” Revista SESVESP |28| maio / junho 2012 enho observado nos últimos anos, muitos acontecimentos no setor da terceirização de serviços, muitos destes “aparentemente” insolúveis pelo menos no curto prazo, dentre eles obrigações legais do tipo: quotas para aprendizes, quotas para deficientes físicos, mudanças de jornadas de trabalho, acréscimos de adicionais de risco de vida ano a ano etc. Tudo isso, causa uma insegurança muito grande tanto para as empresas como para os empresários, mais de vez enquando aparece alguém de espírito otimista e diz: está tudo bem, labuto neste mercado a anos, já passei por muitos momentos como esse, logo-logo, passa e tudo fica bem! O que de “certa forma” acalma e tranquiliza o mercado. Alguns dias depois, surgem outras obrigações, decisões judiciais impositivas, que soam aos ouvidos como verdadeiras aberrações e o sentimento de IN-justiça se instala outra vez, a mesma pessoa de espirito otimista surgi e diz: chega! Assim também já é demais. Provocando um sentimento de revolta e insegurança no mercado. O líder é, frequentemente, a pessoa que tem vontade de dizer: “assim também já é demais”. Mas, ele sabe que não pode fazer isso porque assim ele causará o pânico. Então, ele se cala. O nome disso é a solidão do poder. O mais interessante é que todos esperam que o líder seja continente de todos os problemas, sem cair na tentação de dividi-los. Caso não consiga, corre o risco de perder esta mesma liderança. Faz parte do conhecimento geral que, no campo da psicologia, nós melhoramos quando entendemos alguma coisa. Isto é verdade, sim , mas não toda a verdade. O complemento, muito menos conhecido, é que nós só poderemos entender alguma coisa depois de termos melhorado. E esta compreensão permitirá que melhoremos ainda mais, o que possibilitará uma nova compreensão, criando um círculo virtuoso. Todo este processo exige um equilíbrio entre o racional e emocional. Alguém que seja incapaz de sentir, ou que seja incapaz de controlar suas emoções, não terá a capacidade de fazer uma escolha adulta. Para isso, ele deverá saber lidar com o seu medo e com a sua agressividade. Diante de um perigo qualquer, sentimos medo, que provoca uma descarga de adrenalina, que vai me preparar para lutar - se eu for caçador, ou para fugir se eu for caça. Se vou lutar ou fugir, os órgãos nobres do meu organismo serão os músculos, o que eu uso para isso. O organismo precisará então de sangue nos músculos. Isto é conseguido pela dilatação dos vasos musculares e pela contração daqueles onde o sangue não é tão necessário naquele instante. Por isso, fico branco de medo. A rapidez necessária é conseguida por uma taquicardia e a boa oxigenação por uma taquipnéia. O baço, um banco de sangue, providenciará glóbulos vermelhos, além de plaquetas. Estas últimas para diminuir o tempo de coagulação porque eu posso me ferir na luta. O fígado libera glicose e o pâncreas, a insulina que a queimará - garantindo, com a combustão, a energia necessária. Esta reação, que me deixa inteiramente preparado para lutar ou fugir, chama-se estresse e é, portanto, uma reação normal e saudável. Eustresse, do grego eu = bom . O bom estresse. E quando estou preparado, mas imobilizado. E esta é a função do medo. Ele me imobiliza e é o que me permite medir o tamanho do problema, o tamanho das minhas forças, que comparados me permite tomar uma decisão. Para conseguir o equilíbrio necessário no processo decisório, é fundamental que a pessoa conheça suas emoções e tenha controle sobre elas. A conquista destas duas premissas é impedida pelo processo a que chamamos de solidão do poder.