REVISTA SAÚDE MAIO 2019 | Page 6

ENTREVISTA COM FRASER STODDART

A ERA DOS ROBÔS MICROSCÓPICOS

O que seriam as máquinas moleculares, essas ferramentas que poderão ser introduzidas no nosso corpo?

São dispositivos criados sinteticamente numa escala nanométrica (um nanômetro equivale à milionésima parte de um milímetro). Seus Componentes têm a capacidade de realizar movimentos e rotações. É possível, então, pensar em motores funcionando num mundo microscópico

Quais seriam as aplicações na área da saúde?

Podemos nos inspirar na ficção cientifíca e naquelas histórias de pequenos submarinos viajando pela corrente sanguínea. Eu acredito que isso, um dia, se tornará realidade. Será possível criar máquinas com a capacidade de vigiar o organismo, de fazer diagnóstico de doenças logo em sua origem ou de levar um medicamento até o local exato onde ele vai agir. É óbvio que essas coisas ainda não estão disponíveis, mas veremos nas próximas décadas o advento de um novo domínio do conhecimento.

Quanto tempo isso vai demorar para chegar até nós?

Ainda há muito trabalho a ser feito. Não é uma coisa para as próximas duas décadas. Mesmo assim, é preciso levar em conta quanto evoluímos nos últimos anos. Me lembrro

evoluímos nos últimos anos. Me lembro do primeiro transplante de coração, lá em 1967. Hoje em dia, a medicina consegue realizar operações do mesmo tipo com relativa facilidade. Tudo vai depender da capacidade criativa e do trabalho das mentes jovens que vão guiar a ciência para o futuro.

Há alguma área que pode tirar proveitos das máquinas moleculares antes da medicina?

O primeiro uso provavelmente será na cosmética. Quase caí para trás quando me falaram sobre isso! Mas trata-se de um ramo em que é possível agregar valor a novos produtos com investimento mais baixo. Estamos falando de um mercado em que as pessoas gastam muito dinheiro todos os anos. Será possível pegar as fórmulas e colocá-los em sistmas nanométricos que aumenteem sua eficácia. Com a vantagem extra de minimizar efeitos colaterais.

Sir Fraser Stoddart,

76 anos, é escocês e professor da Universidade Northwestern (USA). Em 2016 ganhou o Prêmio Nobel de Química por seus trabalhos com máquinas moleculares

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