Revista Sampa Digital Edição 26 Abril 2020 ilovepdf_merged-2 | Page 22
Em 2020, a Mancha Verde
trouxe para o desfile no
Anhembi o jovem Nicolas
e sua mãe, Silvia Grecco,
que ficou conhecida por
narrar os jogos do Palmei-
ras para o filho cego e
autista. A cumplicidade
entre os dois foi alvo de
reportagens e homena-
gens durante o meio
esportivo no ano de 2019.
Mas acredite, essa é uma
história comum, e ao
mesmo tempo única. O
elo entre mães e filhos
podem ser encontradas
no futebol, na gastrono-
mia, na música, na dança
e no carnaval.
Este é o caso de Miriam
Pena, 59, mãe do Bruno,
29, que juntos desfilam há
mais de dez anos no
carnaval de São Paulo.
Entre enredos, baterias,
passistas e vitórias, a
cumplicidade entre os
dois mostra que o amor
de carnaval é mais
profundo e menos passa-
geiro.
AMOR PASSANDO
GERAÇÃO
DE
Criada pelos pais e pela
avó, a dona de casa
Miriam,
desde
cedo
gostava de pular carnaval.
Em época de folia, a mãe
a acompanhava em bailes
e bloquinhos de rua, na
época, famosos na Aveni-
da São João.
Foi casada por seis anos e
dessa relação nasceu
Bruno, que como Miriam
gosta de explicar “meu
maior companheiro no
samba”. O carnaval foi
passado de mãe para
filho. Desde que começa-
ram a desfilar, não para-
ram um ano sequer.
Miriam
enxergava
a
evolução do filho nos
desfiles e isso a completa-
va.
22
“Ver meu filho se tornar ritmista mesmo
tendo uma patologia de fragilidade óssea é
algo que vai ficar sempre marcado para
mim”, revela. “Mas outras coisas também
me marcaram, como esse ano ele fazer a
abertura do segundo ensaio técnico da
Peruche, cantando com Léo Reis e Leandro
Alegria.”
A AVENIDA É NOSSA SEGUNDA CASA
Moradores do tradicional bairro da Vila
Prudente, Zona Leste de São Paulo, o primeiro
desfile de Mirian e Bruno foi pela Gaviões da
Fiel. Corintiano roxo, Bruno aguardava todos
os anos o desfile da agremiação pela televisão
e sonhava em participa um dia.
“Eu tinha alguns problemas de saúde na
infância que me impediam de ir”, relembra
Bruno. “Com 17 anos, uma vizinha nossa
disse que iríamos participar do desfile. O
filho dela tocava na Gaviões e ela entrou
em contato com o diretor da escola. Desfi-
lamos em uma área específica para cadei-
rantes”, conta.
Além da Fiel, mãe e filho ainda desfilaram pela
Camisa 12, Leandro de Itaquera, Tatuapé,
Imperador do Ipiranga, Império, Mocidade
Alegre, Tom Maior e Unidos do Peruche. Por
passar por tantos sambas fica difícil escolher
um. “Impossível citar o meu favorito, todos
me marcaram de alguma forma” diz
Miriam. “Mas vou mencionar o desfile da
Tom Maior em 2016 (vice-campeã do grupo
de acesso) e a do Peruche em 2020 (que
tinha como enredo ‘Ubuntu – Por um novo
mundo’)”.................................”
“Fomos com o serviço de van, lá ficamos
na pista, mas a chuva estava forte, tinha
muito mato na pista e o local escuro. Foi
difícil se locomover com a cadeira de
rodas e a estrutura também não ajudava
muito”, comenta Bruno.
Mas no ano do centenário do Corinthians,
Bruno afirma que apesar das dificuldades
do dia, valeu a pena participar desse
momento. Embora, salienta que é preciso
fazer diversas melhorias de acessibilidade
nos sambódromos. “Principalmente o
banheiro do Anhembi. Só que Interlagos
estava com toda a estrutura precária”,
relata.
OS SONHOS DA MÃE
Miriam não pensa muito ao responder
sobre o que daria de presente ao filho. “Um
videogame novo”, pois faz parte da diver-
são dele.
Esta não é a única coisa que a dona de casa
quer: “Eu mudaria os preconceitos que
parte da sociedade tem com os portado-
res de necessidades especiais. Meu filho
passa por isso e é muito ruim”, completa
Miriam.
A mãe sabe que seu filho é um presente de
Deus e uma missão de amor na terra.
“Não devemos medir esforços pela
alegria dos nossos filhos especiais, que
para mim, nada mais é do que uma
benção de Deus”, finaliza.
O MAIOR PERCALÇO DA AVENIDA
Sem pestanejar, Bruno comenta que foi o de
2010. Aquele ano ambos estavam desfilando
pela Camisa 12, na época pertencente ao
grupo especial de bairros, e o desfile ocorreu
em Interlagos. Além de morar longe do local,
ainda estava chovendo.
23