Revista Samba Acadêmico Especial Resenha de Batuqueiros 400 É Pouco | Page 29

Essas tradições se mesclaram de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses, como os instrumentos mencionados acima, e à própria língua portuguesa e elementos de suas formas poéticas. Tal mescla, assim como outras mais recentes, não exclui o fato de que o samba de roda foi e é essencialmente uma forma de expressão de brasileiros afro-descendentes, que se reconhecem como tais. pg 24 Dossiê IPHAN 4 Samba de Roda do Recôncavo Baiano.

Já no Dossiê do IPHAN sobre o Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba Enredo enumera: A música, A poesia, A dança, A cena, A Roda, A religiosidade, A comida, Os instrumentos, A bandeira, As baianas, As velhas guardas, O terreiro, A transmissão do saber. Dossiê Matrizes do Samba no Rio de Janeiro Iphan.

Comer no samba equivale a viver, preservar, comunicar e reforçar memórias individuais e coletivas. “Desde os tempos de Tia Ciata, em cujo quintal muito se criou e consumiu comida e arte, sabor e saber musical se misturaram nas comunidades do samba carioca. Não há reunião de sambistas sem o prazer do preparo e da degustação de iguarias feitas pelas tias baianas. As escolas de samba foram criadas em torno dessas.” pg 69 Dossiê Matrizes do Samba no Rio de Janeiro Iphan.

"(...)esentadas e transmitidas pelos depositários dessas tradições, que são as Velhas Guardas, os mestres, os baluartes, os bambas e seus herdeiros na defesa dos fundamentos, reconhecidos pelas próprias comunidades de sambistas como memória viva do samba no Rio de Janeiro, com notório saber dos ofícios do partido-alto, do samba de terreiro e do samba-enredo.” Objeto - Dossiê Matrizes do Samba no Rio de Janeiro Iphan.

Em São Paulo quando os cordões desfilavam pelas ruas a população – principalmente os italianos, franqueavam a entrada dos sambistas à suas residências onde haviam mesas fartas de alimentos e bebidas.

Mário de Andrade (1937) realizou um estudo etnográfico sobre esse tipo de samba em Pirapora do Bom Jesus no ano de 1937, fez um levantamento das músicas tocadas pelos sambistas, dos instrumentos utilizados na execução do samba, e descreveu o alojamento onde permaneciam os negros nos dias de festa, entre outros aspectos.

O samba de bumbo surge nas fazendas de café do interior paulista no século XIX, sendo introduzido na capital paulista na passagem no século XIX para o século XX, quando ocorre a migração de negros, ex-escravos, para capital em busca de melhores condições de vida. (O SAMBA DE BUMBO EM PIRAPORA: CONSTRUÇÃO DE UMA EXPRESSÃO SINGULARMENTE PAULISTA? - Fernanda de Freitas Dias)

Um importante foco de propagação deste samba dito “rural” na cidade de São Paulo era o já extinto Largo da Banana, situado na Barra Funda, o equivalente à Praça Onze no Rio de Janeiro, no que concerne ao desenvolvimento e festejo do samba. Lá os trens descarregavam bananas trazidas de outras regiões e muitos negros trabalhavam como carregadores e ensacadores. O Largo era também um espaço de sociabilidade da população negra paulistana, sendo que, nas horas vagas, entre um trem e outro, estes trabalhadores formavam rodas de samba e tiririca. . (O SAMBA DE BUMBO EM PIRAPORA: CONSTRUÇÃO DE UMA EXPRESSÃO SINGULARMENTE PAULISTA? - Fernanda de Freitas Dias)

“Esses redutos eram do conhecimento de todos que se ligavam a um ou a outro, de acordo com suas afinidades. Um dos mais importantes era a casa da Tia Olímpia na Rua Anhangüera na Barra Funda, quase encostada na linha do trem. Ali a “dona do samba”, como era chamada, promovia regularmente o samba de roda, congregando gente famosa, incluindo os bambas da Glete.” (BRITTO, p. 68, 1981)

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