Revista Samba Acadêmico Especial Resenha de Batuqueiros 400 É Pouco | Page 24

Samba não nasceu Samba

"... tornou míope a visão sobre a amplitude nacional do fenômeno Samba"

“A Despeito dos prejuízos ou benefícios obtidos com a projeção do samba para além dos horizontes culturais das comunidades de origem, o processo metonímico que toma a parte do Rio pelo todo o Brasil, tornou míope a visão sobre a amplitude nacional do fenômeno Samba. O entendimento de sua gênese e de sua filiação aos Batuques, de ocorrência histórica antiga e de larga projeção geográfica, pode promover uma correção desse reducionismo analítico, ampliando as possibilidades de compreensão do seu papel exato dentro do universo dos nossos folguedos populares, sem prejuízo simbólico para a centralidade histórica do gênero no Rio de Janeiro.” Marcelo Manzatti “Samba Paulista, do centro cafeeiro à periferia do centro: estudo sobre o Samba de Bumbo ou Samba Rural Paulista. (pag 93)

O Samba é um processo de centenas de anos que se desenvolveu em território brasileiro de forma ampla e irrestrita. Os batuqueiros nascidos livres, mas feitos escravos, chegam à nova terra, se misturando a cultura local em construção. E esta construção desenvolve-se em meio a uma miscigenação das culturas dos povos que pioneiramente colonizaram o Brasil - Africanos, Europeus, Asiáticos, e os povos que aqui já se encontravam, misturando a religiosidade através do sincretismo, os costumes, e apesar de ser livre internamente sofreu e sofre na escravidão do preconceito social e se transforma numa Cultura Popular.

SambA RURAL PAULISTA

Processo Sambístico é de Cunho Nacional

Ramificado em todas as regiões por onde

estiveram os povos africanos e seus descendentes, imigrantes europeus, asiáticos, etc. Este entrelaçamento acontece de norte a sul, de leste a oeste, e por este motivo o desenvolvimento do samba influencia e é influenciado pelas culturas locais. Mas o que parece ser unânime e deve haver um consenso neste sentido, é o fato de sempre estar presente a religiosidade e o misticismo, através do sincretismo – rebatizado de inculturamento pela ordem religiosa Companhia de Jesus, as Mães de Santo e seus terreiros e as festas profanas religiosas, estas últimas principalmente no interior do estado de São Paulo.

Imagem: Econtrada no ano de 1725

De madeira entalhada, a imagem do Senhor Bom Jesus, foi encontrada numa corredeira, apoiada numa pedra no rio Tietê, por José Almeida Naves dando origem ao 2º Centro Cristocêntrico do Estado de São Paulo, e depois dando origem a cidade de Pirapora do Bom Jesus.

Foi em virtude das romarias à região de Pirapora, para a consagração do Senhor Bom Jesus, realizadas pelas elites sociais que os batuqueiros escravos participavam dos cortejos, e enquanto os senhorios reverenciavam os santos católicos a

escravaria festejava ao som dos batuques, sempre em espaços diferenciados das festas religiosas. Inicia-se assim a história do Samba em São Paulo, mais tarde também conhecido como Samba de Pirapora, Samba de Bumbo, Umbigada, Jongo, Samba lenço, o Tambu, Samba Campineiro, Samba Rural Paulista

como Mário de Andrade preferiu chamar,

entre outras denominações.

Samba de Pirapora, Samba de Bumbo

Carlos J Fernandes Neto

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