Revista Redescrições | Page 92

92 identidades particularistas, enquanto os idealistas tentam impor, em um padrão fundamentalmente hegemônico, um modelo particular de nível universal. Prozorov discute três estratégias de como superar esse impasse: universalismo genérico, alteridade temporal e aceitação da falência própria. Com Badiou, Prozorov argumenta que a diferença – e a identidade individual dai derivada – é a mais fundamental e também a mais trivial característica da condição humana (2009, p. 228) e, por essa razão, não faz sentido fundamentar a ética e a política nesse fato. Antes, “toda postulação ética tendo por base o reconhecimento do outro deve pura e simplesmente ser abandonada” (BADIOU, 2001, p. 25). Ao invés disso, Badiou propõe um universalismo genérico que neutraliza o conteúdo particular, ao argumentar que as peculiaridades são sempre o resultado de uma situação específica, não do sujeito em si. Como todo sujeito é individuado de modos infinitos, a ideia de individualidade como uma qualidade autocontida não pode ser mantida. A consequência disso é uma configuração – universal – radicalmente igualitária, já que todos os sujeitos estão submetidos a infinitas individuações. Na leitura de Prozorov, Agamben exemplifica esse argumento com seu conceito de amor como uma experiência de “viver em intimidade com um estranho” (AGAMBEN, 1995, p. 61), em que “o amante deseja o amado com todos os seus predicados, seu ser-tal-qual a si mesmo” (idem, 1993, p. 2). Sob a condição de universalismo genérico, a política mundial como antagonismo entre identidades singulares se torna irrelevante e gera uma comunidade de sujeitos igualitários com infinitas identidades e uma tendência a formar uma única humanidade integrada. O conceito de alteridade temporal deve ser visto sob a luz da alteridade espacial. No último caso, o sujeito deriva sua identidade do espaço em que ocupa e em contraste com o espaço que outros sujeitos dominam. Nessa perspectiva, a política é a disputa por espaço e pelas identidades a ele ligadas. A alteridade espacial é uma versão clássica da ontologia política identitária. No caso da alteridade temporal, identidades são baseadas em referências identitárias de outros tempos, normalmente do passado, possivelmente delas próprias em um estágio recuado no tempo. Aqui, o sujeito se diferencia de sujeitos do passado, não de sujeitos contemporâneos. Entretanto, Prozorov argumenta, com Kojève, que a alteridade temporal é sempre também alteridade espacial, já que qualquer Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]