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identidades particularistas, enquanto os idealistas tentam impor, em um padrão
fundamentalmente hegemônico, um modelo particular de nível universal. Prozorov
discute três estratégias de como superar esse impasse: universalismo genérico,
alteridade temporal e aceitação da falência própria.
Com Badiou, Prozorov argumenta que a diferença – e a identidade individual dai
derivada – é a mais fundamental e também a mais trivial característica da condição
humana (2009, p. 228) e, por essa razão, não faz sentido fundamentar a ética e a política
nesse fato. Antes, “toda postulação ética tendo por base o reconhecimento do outro deve
pura e simplesmente ser abandonada” (BADIOU, 2001, p. 25). Ao invés disso, Badiou
propõe um universalismo genérico que neutraliza o conteúdo particular, ao argumentar
que as peculiaridades são sempre o resultado de uma situação específica, não do sujeito
em si. Como todo sujeito é individuado de modos infinitos, a ideia de individualidade
como uma qualidade autocontida não pode ser mantida. A consequência disso é uma
configuração – universal – radicalmente igualitária, já que todos os sujeitos estão
submetidos a infinitas individuações. Na leitura de Prozorov, Agamben exemplifica esse
argumento com seu conceito de amor como uma experiência de “viver em intimidade
com um estranho” (AGAMBEN, 1995, p. 61), em que “o amante deseja o amado com
todos os seus predicados, seu ser-tal-qual a si mesmo” (idem, 1993, p. 2). Sob a
condição de universalismo genérico, a política mundial como antagonismo entre
identidades singulares se torna irrelevante e gera uma comunidade de sujeitos
igualitários com infinitas identidades e uma tendência a formar uma única humanidade
integrada.
O conceito de alteridade temporal deve ser visto sob a luz da alteridade espacial.
No último caso, o sujeito deriva sua identidade do espaço em que ocupa e em contraste
com o espaço que outros sujeitos dominam. Nessa perspectiva, a política é a disputa por
espaço e pelas identidades a ele ligadas. A alteridade espacial é uma versão clássica da
ontologia política identitária. No caso da alteridade temporal, identidades são baseadas
em referências identitárias de outros tempos, normalmente do passado, possivelmente
delas próprias em um estágio recuado no tempo. Aqui, o sujeito se diferencia de sujeitos
do passado, não de sujeitos contemporâneos. Entretanto, Prozorov argumenta, com
Kojève, que a alteridade temporal é sempre também alteridade espacial, já que qualquer
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]