Revista Portugal Protocolo "27 - 2015 Septembre 2015 | Page 42
Património - Marcas Portuguesas Seculares, Diário de Notícias
Um jornal de iniciativa.
Qualquer
pessoa
minimamente
relacionada com os jornais está ainda
hoje maximamente familiarizada com
aquela página, onde sobressai que
Suas Majestades e Altezas passam
sem novidade em suas importantes
saúdes.
O que é que fez um jornal, nascido,
aparentemente,
como
todos
os
outros, ganhar uma tal notoriedade?
Provavelmente, o facto de o DN nunca
ter sido, afinal, um jornal como os
outros.
O DN marcou-se pela diferença.
Pelo seu poder de iniciativa.
Pela sua determinação em andar
de braço dado com a modernidade.
Tudo passou a ser diferente desde
aquela manhã de quinta-feira, 29 de
Dezembro de 1864, dia de São Tomás
de Cantuária, talvez escolhido para
dar sorte a Tomás Quintino Antunes,
que, com Eduardo Coelho, fez a dupla
de fundadores do jornal.
No tempo do Senhor Dom Luís
Reinava, havia três anos, o Senhor
Dom Luís, no espaço que lhe era
concedido
pelos
conflitos
entre
liberais e absolutistas, reaccionários
e
progressistas,
monárquicos
e
republicanos, religiosos e laicos.
Três novidades, em simultâneo,
quebraram a rotina daquele dia, logo
pela manhãzinha: - aparecia um jornal
que custava dez réis pelas suas quatro
páginas, ou seja, três a quatro vezes
mais barato do que os restantes em
praça; - chegou à rua pela vozearia
de rapazes que o apregoavam a
plenos pulmões pela capital: era o
princípio do fim do monopólio dos
cegos papelistas da Irmandade do
Menino Jesus de São Jorge de Arroios,
em postos fixos; e apresentou-se
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como um jornal de carácter popular,
independente e predominantemente
noticioso.
Estava na rua aquilo que hoje se
chamaria o número zero do DN e que,
na altura, se denominou o númeroprograma: O Diário de Notícias - o
seu título assim o indica – irá será
uma compilação cuidadosa de todas
as notícias do dia, de todos os países
e de todas as especialidades, um
noticiário universal.
Em estilo fácil e com a maior
concisão, informará o leitor de
todas as ocorrências interessantes
(...) Eliminando o artigo de fundo,
não discute política nem sustenta
polémica.
Regista com a possível verdade todos
os acontecimentos, deixando ao
leitor, qualquer que sejam os seus
princípios e opiniões, o comentá-los a
seu sabor.
É pois um jornal de todos e para todos
- para pobres e ricos de ambos os
sexos e de todas as condições, classes
e partidos. Um estatuto editorial assim
- muito antes de se falar em estatutos
editoriais - era uma verdadeira
revolução no panorama da imprensa
da época, partidarizada e instrumento
da luta política.
O fôlego de Eduardo Coelho
O sonho de José Eduardo Coelho
era mudar. Nascido em Coimbra,
Eduardo Coelho ansiava por um