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CULTURA
STEVE HACKETT
Este ano o músico inglês Steve Hackett foi o cabeça de cartaz, não tendo
faltado ao longo de três dias do festival outras boas opções para quem procu-
rou Gouveia de 4 a 6 de maio para viver a música, rever amigos e celebrar a
música progressiva.
A abertura do Festival aconteceu na noite do dia 4, nos claustros dos Paços
do Concelho, com os holandeses Flairck, numa formação em quinteto que
apesar das quatro décadas que este projeto já leva e das muitas alterações
sofridas pela sua formação, têm mantido o som que os definiu quando foram
fundados por Erik Visser e Peter Weekers, numa síntese perfeita e original
de folk, jazz, rock e música clássica, a qual foi sempre executada por instru-
mentistas virtuosos.
No sábado à tarde assistimos ao concerto da formação de Estrasburgo, o coletivo
francês Camembert que cria peças originais onde mistura vários géneros musicais
– rock-in-opposition, jazz, zeuhl, música clássica – e múltiplas influências – Frank
Zappa, Magma, King Crimson, Gong – com grande sentido de humor e imaginação
e ao regresso ao palco do Flairck, no início de noite.
O concerto de encerramento do segundo dia do festival aconteceu com a apresen-
tação do álbum “10.000 anos depois entre Vénus e Marte” do incontornável músico
português, José Cid. Após uma breve passagem por vários grupos pop, ainda na dé-
cada de 1960, José Cid tornou-se notado enquanto vocalista, teclista e compositor
do Quarteto 1111; projeto pioneiro na definição do que viria a ser o rock sinfónico
português. Paralelamente, no início da década seguinte, encetou uma longa carrei-
ra a solo, em cuja primeira fase gravou “10.000 Anos depois entre Vénus e Marte”,
um dos álbuns de referência do progressivo nacional.
O terceiro dia do festival trouxe ao Palco do Teatro Cine de Gouveia aquele que
foi considerado o grupo revelação do Gouveia Art Rock 2018, os americanos Bent
Knee, formados em Boston e que constituem um projeto que desafia as catalo-
gações musicais. Produzem um som sem limites, o qual funde uma miríade de
influências que vai da pop à música minimalista. Ferozmente inovador, o grupo faz
a ponte entre o experimental e o familiar, misturando textura e estilo numa música
que é comovente, viciante e original. Um nome a recordar, da lista de grupos que
ao longo destes 14 anos têm passado pelo Gouveia Art Rock!
A tarde do terceiro dia permitiu ainda o regresso aos Claustros dos Paços do Con-
GOUVEIA | REVISTA MUNICIPAL
JOSÉ CID
BENT KNEE
celho para um concerto memorável, quer pela qualidade, quer pelo improviso e
capacidade de adaptação a uma mudança, a meio do concerto, provocada pela
trovoada e chuva, que se fez sentir, obrigando o grupo Magna Carta a um concer-
to que se tornou acústico e que aproximou o público dos músicos. Formados em
1969, os Magna Carta depressa se tornaram numa das mais importantes bandas
de folk-rock na Grã-Bretanha. Depois de dezenas de álbuns gravados, centenas
de concertos ao vivo e várias mudanças de formação, Chris Simpson, cantautor e
guitarrista, continua a ser o responsável pelo som inconfundível do grupo, reunindo
sempre em torno de si músicos de grande talento.
A Igreja de São Pedro, no centro da cidade, continuou, nesta edição a ser palco
de um concerto clássico, com o pianista André Cardoso, natural de Sernancelhe,
com os seus estudos feitos no Conservatório de Música de Viseu, onde traba-
lhou com Rosgard Lingardsson, e na Universidade de Aveiro, integrando a clas-
se do Professor Vitali Dotsenko. Posteriormente ingressou na École Normale de
Musique de Paris, onde trabalhou com Guigla Katsarava, obtendo os “Diplôme
d’Exécution”, “Diplôme Supérieur d’Exécution” e “Diplôme Supérieur de Concer-
tiste”. O Músico tem-se apresentado em inúmeros festivais a solo e em diversas
formações de música de câmara. Tocou como solista com a Orquestra Filarmonia
das Beiras, sob a direção dos maestros António Lourenço, António Saiote e Ernst
Schelle, e com a Orquestra Nacional de Câmara da Moldávia, sob a direção de
Alexey Vasilenko.
O Festival Gouveia Art Rock encerrou a edição de 2018, na noite do dia 6 de maio,
com o regresso do lendário Steve Hackett.
Para além de ser um dos mais importantes guitarristas da história do progressivo
britânico e mundial, tendo deixado a sua marca nos lendários Genesis da fase
áurea, Steve Hackett tem vindo a revelar-se também um compositor notável. De
facto, ao longo de uma carreira a solo o guitarrista compôs inúmeras peças, sobre-
tudo instrumentais, de elevada qualidade e grande arrojo, tanto naquelas em que
se aproxima mais da linguagem clássica como nas outras em que se mantém fiel
ao estilo progressivo.
No palco do Teatro Cine, Steve Hackett mostrou porque continua a ser uma refe-
rência da história da música progressiva, num concerto de mais de duas horas que
marcou o seu regresso a Gouveia e mostrou de forma inequívoca a sua qualidade
enquanto compositor e guitarrista.