os problemas
Recentemente, pesquisadores da Universidade espécies invasoras são generalistas, aproveitando
Federal de Alagoas (Ufal) em Penedo perceberam essas mudanças da vazão do rio, do represamento
que os peixes nativos do Rio São Francisco estão e muitas vezes do lixo, pois muitas fazem suas
sumindo, pois não estão sendo mais tão vistos em desovas em resíduos sólidos”, explica o professor
mergulhos e nem nas pescarias. Os que aparecem responsável pela pesquisa, Cláudio Sampaio.
têm um tamanho menor do que era registrado há
O senhor Alfredo Fernandes, mais conhecido
ou seja, que não eram encontradas naturalmente como “Piau”, tem 58 anos de idade e pesca em
no rio, estão aparecendo cada vez mais nas Penedo há 44. Ele confirma que o sumiço dos
pesquisas embaixo d’água e também nas redes peixes nativos tem afetado a profissão. “A per-
dos pescadores, e em tamanhos maiores. da destes peixes é negativa para o rio e também
para o pescador. Antigamente, a pesca era melhor.
Para você ter uma ideia desse desequilíbrio Hoje é difícil fazer dinheiro na pesca. O xíra, por
ambiental, algumas dessas espécies que estão exemplo, passou um tempo escasso, dificilmente
aparecendo no Baixo São Francisco são de água eu pego, mas ainda se pega”, conta.
salgada, isto é, vivem originalmente no mar, como
tartarugas marinhas. A situação piora porque Com a diminuição no número de peixes nativos,
acontece uma reação em cadeia: o aumento de outro animal afetado foi a lontra. Isso porque ela
peixes invasores contribui para reduzir o número é um mamífero semiaquático que se alimenta de
de peixes nativos. O tucunaré, por exemplo, é uma peixes e crustáceos, e com a escassez de comida,
das espécies mais vistas pelos pescadores recen- esse animal está entrando conflito com os pesca-
temente e se alimenta dos peixes nativos, o que dores locais, que também precisam dos mesmos
agrava ainda mais as mudanças no ecossistema recursos. Os trabalhadores relatam que as lontras
do rio. destroem suas redes de pesca em busca de ali-
mento e alguns contam que até tentaram matar
“Quando temos mais espécies invasoras que na- o animal por conta do prejuízo que estão lhes
tivas, fica claro o desequilíbrio do ambiente. As causando.
Um estudo internacional apontou a Bacia Hidrográfica
do São Francisco como a ecoregião de água doce do
Brasil com maior grau de endemismo. Isso quer dizer
que o Velho Chico tem um grande número de espécies
que não acontece em mais nenhum lugar do mundo!
alguns anos. Ao mesmo tempo, espécies exóticas,
O VELHO CHICO
O Rio São Francisco é um dos rios mais impor-
tantes do Brasil, sendo fonte de vida para diver-
sas espécies animais e também de sustento para
muitos ribeirinhos que dependem da suas águas.
Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais,
e encontra o mar no Oceano Atlântico, na cidade
de Piaçabuçu, em Alagoas.
FAMÍLIAS DE PEIXES QUE APARECERAM E DESAPARECERAM NOS REGISTROS DOS PESQUISADORES
DESAPARECEU
APARECEU
O rio também é aproveitado para a geração de
energia elétrica. Ao longo de toda a sua extensão,
existem seis usinas hidrelétricas, entre elas a de
Xingó, que fica localizada entre os estados de
Alagoas e Sergipe. A usina tem capacidade de
armazenamento de 3,8 bilhões de metros cúbicos
em seu reservatório, e uma potência instalada de
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Família: Carangidae
Natureza: marinha
Nome popular: guarajuba ou xaréu
Família: Engraulidae
Natureza: marinha
Nome popular: pilombeta
Família: Prochilodontidae
Natureza: água doce
Nome popular: xira ou curimatã
mais de 3 milhões de quilowattes.
A pesquisa da Ufal Penedo foi realizada em 2016 e 2017 e comparou os peixes encontrados com as espécies
que foram observadas nos anos de 2010 e 2011. Veja quais foram as famílias que apareceram e desapareceram
nesse intervalo de tempo:
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