REVISTA MIRADAS INTERNACIONAL BRASIL EDICIÓN #05 | Page 60

Essas fotos, essas fantasias. Se as fotos eram as de um artista, as roupas eram da confecção caseira da tia. Exímia costureira, um Dener Abreu da metade do século XX. Anos a fiar, ela construiu mais que carnaval. Foram batizados, aniversários, primeiras comunhões, casamentos. De plumas a paetês. De grinaldas a mosquiteiros. Da cortina à mesa de jantar. Em ambos, as mãos artesanais na produção de lindezas.

Essas imagens voltam ao presente de um carnaval enclausurado. Aqueles eram os de rua. Do talco, da serpentina, do confete, do tão suspeito lança-perfume. Que conteriam aquelas embalagens? Ressoa em seus ouvidos: - Menina, longe de lança-perfumes, é perigoso!

Tão perigoso! Perigoso e presentificado em cada uma das sete fotos daqueles sete carnavais. Que sorte o perigo daqueles ininterruptos sete anos. Que sorte teve aquele fotografado naquelas fantasias. Que sorte aquela rua alva de brancos suores do talco, de braços enlaçados por serpentinas, cabelos coloridos por confetes e perfumados até a medula.

Na vitrola de um grande e austero móvel, saía a voz de Carmen Miranda “Taí”... e aqueles pisantes deslizavam rua afora, casas adentro, tomados e entornados por suaves bebidas adocicadas, em um vai e vem movimentado durante sete dias. E para tudo acabar na quarta-feira.

Ou dali alguns meses. Sete anos, sete carnavais. Tudo que restou, fotos. Sete fotos.