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LiteraLivre Edição Especial nº 1 objeto e avançou a passos largos. Era seu violão. Assim que pôs as mãos no violão o ambiente pareceu ganhar vida. Refletores apontavam luzes sobre seu corpo. Notou que estava sobre um palco de piso escuro. Colocando as mãos por sobre os olhos, vislumbrou o grande público que o observava. E, como o narcisista que era, começou a tocar as melodias e músicas mais complexas que conhecia, passando os dedos por toda a estrutura do violão, emitindo sons excepcionais, balançando seu corpo envolto naquele rito de prazer e egocentrismo. O suor pingava de sua face. Após o que considerou um grande ato, uma apresentação memorável que com certeza ficaria gravada eternamente na mente de todos ali presentes, Pedro parou de tocar, fazendo uma grande reverência para o público. Esperando os aplausos e a ovação, levantou a cabeça, desconcertado. O ambiente parecia morto. Conferiu mais uma vez por sob a luz dos refletores se a audiência ainda estava presente... Todos estavam em silêncio. — Continue! – ecoou uma voz. Não conseguiu distinguir de onde ela vinha. Parecia que vinha de dentro de seu cérebro. - Não irei continuar seu bando de estú... – antes de terminar sua ofensa, seus braços moveram-se involuntariamente e seus dedos começaram aquela dança frenética tão conhecida por ele. Estava tocando majestosamente, mas sem controle de suas ações. De olhos arregalados e boquiaberto, Pedro Júnior tocou por horas. Seu corpo inteiro suava. Sua camisa estava colada a seu tronco. Seus pés doíam por ter permanecido em pé por tanto tempo. A coluna dava indícios de que necessitava de um descanso. Mas o pior de tudo eram seus dedos. Eles sangravam, calos e bolhas haviam se formado em suas mãos. O sangue escorria e misturava-se às cordas do violão que já estava respingado por suor e por sangue. As lágrimas escorriam de seus olhos, indo ao encontro das gotas de suor 10