Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - Edição Especial 01 | Page 13

LiteraLivre Edição Especial nº 1 grandes galãs, mas o sucesso era algo mágico. As mulheres pareciam se derreter a seus pés. Bastava subir ao palco e tocar um acorde de guitarra para elas ficarem ensandecidas e aparecerem depois dos shows nos bastidores. Bons tempos... Colocou o violão dentro da capa, o maço de cigarros dentro do jeans rasgado, o tênis de lona bastante gasto com alguns buracos e a sola meio frouxa, trancou a porta e saiu. Sentiu o vento gelado cortar sua face. Acendeu um cigarro, a fim de desanuviar seus pensamentos e memórias e aquecer seu interior. Andou alguns metros, indiferente a paisagem e pessoas a seu redor. O tempo passou, a dificuldade tornou-se uma constante em sua vida, o dinheiro acabou, a fama e o sucesso se extinguiram, mas a marra e o porte de artista haviam permanecido. Pedro tinha um ar blasé, adotava uma postura de superioridade. Algumas vezes, enquanto performava sobre um caixote ou sentado no meio fio parecia, aos olhos do público, que ele estava fazendo um favor a eles, que deviam agradecê-lo imensamente por estar ali, cantando e tocando para seus ouvidos inferiores, reles mortais. Talvez esta atitude seja uma das razões que fazem com que Pedro não receba muitas ofertas enquanto toca. Mas, honestamente, ele não se importa. É claro que os transeuntes, que não passam de criaturas banais, não conseguiriam compreender sua arte. Sua música era para poucos. Era obra divina. Após meia hora sentado num caixote de verduras vazio que estava largado na entrada de um mercado, Pedro, de cabeça baixa dedilhando algumas notas em seu violão, sentiu que estava sendo observado. Levantou os olhos levemente e notou uma presença austera em frente a si. Empertigou-se no caixote, adotando uma postura ereta e ares de soberano das artes, e começou a tocar freneticamente. Seus dedos deslizavam pelas cordas, produzindo notas e sons elaborados, seu corpo inteiro parecia mover-se em 8