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LiteraLivre Edição Especial nº 1
grandes galãs, mas o sucesso era algo mágico. As mulheres pareciam se
derreter a seus pés. Bastava subir ao palco e tocar um acorde de guitarra para
elas ficarem ensandecidas e aparecerem depois dos shows nos bastidores.
Bons tempos...
Colocou o violão dentro da capa, o maço de cigarros dentro do jeans
rasgado, o tênis de lona bastante gasto com alguns buracos e a sola meio
frouxa, trancou a porta e saiu.
Sentiu o vento gelado cortar sua face. Acendeu um cigarro, a fim de
desanuviar seus pensamentos e memórias e aquecer seu interior.
Andou alguns metros, indiferente a paisagem e pessoas a seu redor. O
tempo passou, a dificuldade tornou-se uma constante em sua vida, o dinheiro
acabou, a fama e o sucesso se extinguiram, mas a marra e o porte de artista
haviam permanecido. Pedro tinha um ar blasé, adotava uma postura de
superioridade. Algumas vezes, enquanto performava sobre um caixote ou
sentado no meio fio parecia, aos olhos do público, que ele estava fazendo um
favor a eles, que deviam agradecê-lo imensamente por estar ali, cantando e
tocando para seus ouvidos inferiores, reles mortais. Talvez esta atitude seja
uma das razões que fazem com que Pedro não receba muitas ofertas enquanto
toca. Mas, honestamente, ele não se importa. É claro que os transeuntes, que
não passam de criaturas banais, não conseguiriam compreender sua arte. Sua
música era para poucos. Era obra divina.
Após meia hora sentado num caixote de verduras vazio que estava
largado na entrada de um mercado, Pedro, de cabeça baixa dedilhando
algumas notas em seu violão, sentiu que estava sendo observado. Levantou os
olhos levemente e notou uma presença austera em frente a si. Empertigou-se
no caixote, adotando uma postura ereta e ares de soberano das artes, e
começou a tocar freneticamente. Seus dedos deslizavam pelas cordas,
produzindo notas e sons elaborados, seu corpo inteiro parecia mover-se em
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