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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
aterrorizante de capuz. Formavam uma roda. No meio estava ele feito uma
criança ao desamparo. E a roda crescia e se multiplicava. Até que num torvelinho
infernal apareceu a imagem de uma faca. Faca sangrenta que cortava a todos.
Faca de imolação.
Afinal onde estava? Era-lhe oferecido de bandeja a era primeva. O
momento primordial. A faca desbastava os excessos dos séculos e o fazia
regressar aos primeiros impulsos do mundo. Sua respiração tinha de acompanhar
os primeiros fôlegos do universo. Ele estava próximo da coisa. Coisa-essência. O
mundo exalava a novidade. Era um banquete de sensações. Não tinha ideia do
que fazer com a potência da vastidão. A treva agora cobria todo aquele lugar.
Esfregava violentamente as mãos como se fosse um gesto necessário antes de
iniciar um grande ritual mágico. Tinha em suas mãos a alavanca do mundo e do
tempo.
A
seu
bel-prazer
poderia
colocar
a
enorme
engrenagem
em
funcionamento. Dormiu vigiado pelos paredões eternos, como se fossem anjos do
paraíso.
No dia seguinte levantou os olhos. Eram os primeiros dias da humanidade.
Levanta-te e toma a terra. Tudo parecia à espera dele para iniciar a grande
marcha. Saiu da rocha como se fosse expelido do ventre materno. Tinha
renascido. Estava ainda manchado de sangue. E se naquelas paragens alguém
lhe perguntasse daquelas manchas rubras, ele diria que era sangue de
nascimento. Sangue da rocha. Puro e vital.
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