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LiteraLivre nº 8 – Mar/Abr de 2018
A Bexiga e o Cacto
Verônica Lazzeroni Del Cet
Holambra/SP
Era uma história de amor pouco provável, daquelas que deixam dúvida se
realmente vai dar certo e se os envolvidos no relacionamento estarão contentes
com cada importante passo do comprometimento. Mas era o amor, o amor
honesto e que nos deixa confusos, sem saber como reagir e até às vezes não ter
reação, que mantinha Bexiga e Cacto apaixonados.
Um tinha espinho, daqueles bem pontudos e difíceis de alguém não reclamar de
dor quando, por acidente, encostava. Era verdinho como a grama que depois de
longos dias recebendo chuva se alegrava e retribuía a gratidão que sentia,
exibindo a coloração mais verde que pode existir. Ficava em um vaso marrom
sem graça, sem detalhe e a terra escura e adubada era o único conforto que
tinha, até conhecer a Bexiga.
A Bexiga era vermelha, da mesma cor do sangue da gente. Era alegre e
convidada primordial de festas de aniversário. Já havia enfeitado – junto de
outras companheiras – celebrações especiais de crianças, casamentos e também
já tinha visitado hospitais. Às vezes era vendida nas praças, outras vezes era
perdida por alguma criança que durante um segundo de descuido a deixava
escapar dos pequeninos dedos e então partia rumo ao céu sem saber onde
chegaria.
Outras vezes, na verdade na maioria das vezes, ela ficava sem seu formato oval,
dentro da embalagem de bexigas, junto com outras, esperando que alguém a
levasse embora daquela prateleira tão sem graça, com os copos, garfos e
chapéus de aniversário. Apesar de estar com outras bexigas, ela só queria
alguém que a amasse mais do que apenas um aniversário, mais do que apenas o
instante em que a criança da praça a comprava com alegria.
O Cacto, sozinho no quintal, tinha perto de si apenas velhas garrafas de vidro
que em breve iriam para a reciclagem, mas quem disse que as garrafas vazias
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