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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
nos separava da rua.
Um tapa na mesa. Rouco e cavernoso. E o silêncio, enfim.
Chega! O diretor queria o fim do berratório. Que me calasse como
sempre. Que mastigasse e engolisse a inquietude que me devorava. Não mais!
Repetiu o diretor, bruto como meus gritos. Berrei de novo. Para irritar os
ouvidos e atordoar de vez. Eu encarava o diretor de boca aberta e beiços
largos, numa gritaria estridente sem fim.
A batida oca foi mais um tapa. Seguido do corpo erguido do diretor e a
ordem repetitiva. Chega! Chega! Chega! E gritou também. Estendendo a
última sílaba num longo rangido de fúria, mas também de desespero. O
descontrole assusta. E ficamos os dois ganindo, frente a frente, enlouquecendo
os que apenas aguardavam o fim de mais uma reunião. Os que ansiavam pelas
conversas no café. Pelas piadas do fim de semana, pelas risadas sobre o happy
hour da sexta anterior. Os jogos de futebol. A tentativa de convencer o outro
de que haviam vivido. De que o sábado e o domingo não haviam sido em vão.
De que a longa espera pela sexta-feira havia valido a pena. Mas quem vive de
verdade?
Atordoada, a supervisora foi a primeira a tapar as orelhas. Largou a
caneta e abraçou