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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
mais tranquila, talvez pela maturidade alcançada pela idade, aprendendo a
aceitar a vida e suas reviravoltas. Fomos.
Era a primeira praia sem ela. Adorávamos praia, desde que nascera, só
não fomos uma única vez, quando tinha apenas 2 meses de idade. Depois,
desde o primeiro aninho até os 14, sempre fomos ao mar. Agora, estar sem ela
era triste, muito triste. Pegava meu livro, lia e me lembrava de quando
dávamos gargalhadas juntos, comentando mais um conto de “A mulher do
Silva”, de Veríssimo, um de nossos prediletos. De nós dois brincando de quem
fazia o maior castelo de areia, e de como ela ficava furiosa quando eu,
despistadamente, derrubava o seu e a deixava furiosa, num primeiro
momento, para depois receber seu abraço e uma declaração de amor: “Você é
o melhor pai do mundo!!! Meu amor é maior do que o oceano Atlântico, maior
do que o Pacífico, maior do que os sete mares!”, e, enquanto me seduzia com
seus encantos de sereia,
passava por trás e chutava meu castelo. Depois
corria de mim e se escondia nos braços da mãe.
Se passava o vendedor de queijo, novamente me lembrava dela: adorava
aquele queijo, mais do que sorvete, mais do que suco de manga com leite.
Meu consolo eram as palavras de Padre Paulo: “Eu tenho certeza de que, onde
ela está, ela está bem!”
Era o que sonhávamos, era a única coisa em que pensávamos desde que
ela, inesperadamente, partira. Havia mais de um mês que não se falava no
assunto, até que tia Élida ligou no dia 16 de janeiro. “Tem que ser depois de
amanhã! Conseguimos um voo!” Eu faria uma bela festa de 15 anos para ela,
traria Fábio Assunção ou Fiuk para seu baile, mas ela preferiu ir ao Parque de
Harry Potter. Um mês nos Estados Unidos! Era muito tempo para o coração de
um pobre pai!
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