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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
que tantas pessoas não chegam a essa idade. Enumeram tudo de bom que eu
tenho e de ruim que eu não tenho. Mas que sujeita chata que eu sou, que
apesar de saber disso, ainda assim não fico feliz!
Quarenta anos e você o quê é? Uma jovem senhora?! Eu sei que não sou mais
jovem, mas também não me sinto senhora e nem consigo comportar-me com
uma. Ainda uso jeans, All Star e rabo de cavalo. Alguém me viu ontem assim,
só que com o cabelo solto e disse que eu parecia uma menina. Eu brinquei que
só faltava a plástica. Pensei que talvez esteja meio ridícula, meio sem-noção.
Pelo menos é como algumas pessoas vêem aquelas senhoras bem velhinhas
que se vestem de menina. Mas aí eu penso: - E daí? Se estiverem felizes
assim, que assim seja oras! Preciso fazer um coque no cabelo, pôr uma
sapatilha e uma saia reta até os joelhos, é preciso adaptar-me aos quarenta.
Help! Não! Não posso! Não serei eu! Sou como sou independente de ter vinte
ou quarenta anos. Não sei, não aprendi a ser de outro jeito, não consigo
encaixar-me nos padrões de cada idade, desajustada é o que sou.
Mas... que horror... gosto de mim assim!
Quem sabe amanhã eu esteja diferente, pensando e sentindo outras ideias,
vendo as coisas de outro modo, gostando de outras coisas. Quem sabe
amanhã aos quarenta e um anos, aos quarenta e um dia, quarenta e uma
semana, quarenta e um mês. Quem sabe amanhã... metamorfose que sou.
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